terça-feira, 30 de abril de 2024

Emmanuel - Livro Palavras Sublimes - Espíritos Diversos / Chico Xavier - Cap. 23 - Súplica fraternal



Emmanuel - Livro Palavras Sublimes - Espíritos Diversos / Chico Xavier - Cap. 23


Súplica fraternal


Meu prezado irmão, que me ouça o Altíssimo, a cujo coração augusto e resplandecente, em o qual se contém todas as excelsitudes do Cosmos, envio, por ti, a minha súplica fraternal.

Para cá das fronteiras da Terra, os Espíritos, despojados das impressões carnais como que se despersonalizam, identificados nas essências sublimes do amor fraterno, laço sacrossanto que une todos os mundos e todas as almas. 

É por esse motivo que nos qualificamos de irmãos. De fato, todos o somos, sob as vistas amoráveis do magnânimo Pai celestial, já que nos ligam as mesmas aspirações ao Perfeito, palpitando em nossos corações a mesma partícula divina que nos faz vibrar as almas do mais forte de todos os anseios: o de união ao Criador.

Até a mim chegou o apelo do teu coração dolorido e, se eu pudesse, arrancaria de ti as penosas impressões psíquicas como se extirpa uma chaga. 

Todavia, Jesus é o médico de todas as almas e sabe qual o tratamento que lhes convém. Mas em razão de nosso livre alvedrio, somos senhores de nosso próprio destino.

Depois de Deus, ente supremo, absoluta majestade do Universo, nada há, para os Espíritos, tão sagrado como o livre-arbítrio. 

Daí a necessidade da iniciativa de cada individualidade a bem da sua própria evolução. Afastar as possibilidades da autoeducação seria eliminar o progresso, seria despojar o ser de um dos seus divinos atributos, que é a liberdade.

Da realidade desse asserto ressalta a ineficácia dos recursos da taumaturgia para a cura integral de uma alma enferma e abatida.

É à própria alma que compete, em meio das lutas ásperas e dos cruciantes amargores, nos quais está o preço de sua redenção, quando denodadamente suportados, concatenar as suas energias latentes e as suas forças desaproveitadas para estabelecer o controle da sua existência temporária, corrigindo defeitos, dominando inclinações nocivas, envidando esforços para que a sua vontade se fortaleça, seu sentimento se eleve, sua mente se clarifique, integrando-se ela, assim, na harmonia dos seres e das coisas. 

Uma doutrina religiosa ou um bom alvitre são elementos de cura, mas não são a própria cura. A primeira a auxilia, porque ensina, esclarece, ilumina, conforta, representando para o coração angustiado um manancial de energias, onde as criaturas encontram forças para sustar os fracassos quase irremediáveis, as desgraças coletivas e para evitar a propagação de males e ruínas, paralisando o surto de resoluções inconfessáveis.

Isoladamente, porém, o Espírito, em qualquer Plano da vida, tem de coordenar as suas possibilidades para o bem, para a luz, para o amor, em seu benefício, fazendo das aspirações nobres e do trabalho proveitoso o santuário onde a sua mentalidade penetre diariamente para se purificar. 

Só assim conseguirá armazenar em si os grandes cabedais de energia, de fé e beleza moral, que lhe farão viver em correspondência com os Planos superiores do Universo, de onde lhe virão os primores intelectivos e sentimentais, como recompensa natural aos seus esforços.

Uma das mais proveitosas formas dos Espíritos se entregarem a uma atividade fecunda a prol do seu aprimoramento está na reencarnação e eles a escolhem como o caminho mais fácil para a evolução necessária e a almejada ventura. 

Na plenitude da consciência, calculam as suas possibilidades e traçam um plano a que obedecerão rigorosamente e que constitui quase sempre um como mapa de trabalho e sofrimentos.

Tomam a carne. Lutam e padecem. Suas provações parecem obedecer a um implacável determinismo e, com efeito, obedecem, porquanto foi o próprio Espírito quem traçou a senda que lhe compete percorrer, para vencer, dizemo-lo, sem paradoxo, o seu próprio destino, transformando os acúleos da estrada em flores de evolução espiritual.

Os bons desejos, a moral elevada, a confiança nos poderes superiores do bem, as preces sinceras, se mantidas com perseverante vontade, lhe evitam os distúrbios psicológicos e as quedas, por pior que seja o caminho.

É por essas razões, estribadas na mais pura lógica, que não nos é possível modificar de vez o teu estado psíquico. Estendemos-te as nossas mãos fraternas, amparamos-te com nossos braços intangíveis, mas poderosos, e te indicamos a senda por onde chegarás à felicidade ou redenção: a Misericórdia Divina responderá aos teus apelos veementes.

Luta com abnegação e com heroísmo. Todos os homens nascem para triunfar da prova a que se submetem. Toda carne está eivada de taras perniciosas. Mas será lícito ao Espírito entregar-se-lhe à influência, olvidando as noções da sua liberdade ativa? Não.

O atavismo é um dos grandes escolhos que devem ser vencidos pelas almas no trabalho da sua purificação. 

O Espírito, em qualquer circunstância, é obrigado a preponderar sobre a matéria. Operando dessa maneira, o homem espiritualizará todas as suas células orgânicas, porque, se o objetivo da matéria é dar corpo e expressão às vibrações do Espírito, a função da alma é apurá-la, santificá-la. 

Quando o homem compreender o alcance dessa realidade, as taras desaparecerão do planeta. Por enquanto, porém, os desígnios divinos se utilizam delas como de elementos úteis nas batalhas morais que a humanidade sustenta em favor do seu aperfeiçoamento. 

A causa de todas as moléstias reside na alma. Mas, infelizmente, as criaturas humanas, vivendo apenas entre efeitos, que são coisas transitórias e efêmeras da existência planetária, não vão às fontes de origem escrutar a causa das dores que as afligem.

Para a enfermidade da alma, somente os remédios espirituais são aplicáveis. Por isso é que te ofereço as minhas pobres palavras. 

Muito perde o homem com a sua impaciência. Em face da imortalidade, deveria ele encarar cada vida como um dia de trabalho. 

Que tu saibas aproveitar o teu dia, purificando-te nos ideais e nos atos generosos, santificando-te em sabedoria e amor. 

Aprende a viver em contato com todos quantos te rodeiam. A sociabilidade atenua os rigores da provação. 

A doçura e a afabilidade nos proporcionam novos elementos vitais. 

Insular-nos, em meio das fontes de vida que nos cercam, constitui grande mal. Deus nos criou para que nos amássemos intimamente uns aos outros.

És incompreendido, torturado, ridicularizado, às vezes? Sirva isso ao teu progresso moral. Adapta-te às formas de expressão dos que te não compreendem ainda e faze-lhes o bem que puderes.

Toda alma deve ser um foco atraente de virtudes. 

O maior mérito de um Espírito reside nas boas ações que levou a efeito a prol dos outros. 

No sacrifício está o segredo da ventura espiritual e nos instantes amargos de ríspidas provas refugia-te no templo augusto das preces fervorosas e veementes. 

Do Alto dimanarão radiosidades indefiníveis para o teu espírito, que se sentirá reconfortado na jornada terrena. 

Considera o objetivo do “Conhece-te a ti mesmo” e a tua mente, longe de ser atingida por vibrações de amargura, constituirá um refúgio luminoso de sagradas energias espirituais, onde outras almas buscarão conforto, coragem, luz e amor.


Emmanuel











Reformador — 16 de setembro de 1936.

Emmanuel - Livro Palavras de Vida Eterna - Chico Xavier - Cap. 36 - Coração puro



Emmanuel - Livro Palavras de Vida Eterna - Chico Xavier - Cap. 36


Coração puro


“Não se turbe o vosso coração…” — JESUS (João, 14.1)


Guarda contigo o coração nobre e puro.

Não afirmou o Senhor: — “não se vos obscureça o ambiente” ou “não se vos ensombre o roteiro”, porque criatura alguma na experiência terrestre poderá marchar constantemente a céu sem nuvens.

Cada berço é início de viagem laboriosa para a alma necessitada de experiência.

Ninguém se forrará aos obstáculos.

O pretérito ominoso para a grande maioria de nós outros, os viandantes da Terra, levantará no território de nosso próprio íntimo os fantasmas que deixamos para trás, vagueantes e insepultos, a se exprimirem naqueles que ferimos e injuriamos nas existências passadas e que hoje se voltam para nós, à feição de credores inflexíveis, solicitando reconsideração e resgate, serviço e pagamento.

Não passarás, assim, no mundo, sem tempestades e nevoeiros, sem o fel de provas ásperas ou sem o assédio de tentações.

Buscando o bem, jornadearás, como é justo, entre pedras e abismos, pantanais e espinheiros.

Todavia, recomendou-nos o Mestre: — “não se turbe o vosso coração”, porque o coração puro e intimorato é garantia da consciência limpa e reta e quem dispõe da consciência limpa e reta vence toda perturbação e toda treva, por trazer em si mesmo a luz irradiante para o caminho.


Emmanuel









(Reformador, julho de 1958, p. 146)

Marco Prisco - Livro Momentos de Decisão - Divaldo P. Franco - Você reflexiona?



Marco Prisco - Livro Momentos de Decisão - Divaldo P. Franco


Você reflexiona?


Pensai nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra... Paulo - Colossenses - 3:2


Quando a aflição campeia, a oração é segurança.

Tempo gasto na inutilidade – salário do desespero.

O silêncio sábio expressa maturidade do conhecimento.

O palavrório do tolo traduz-lhe a ignorância.

O erro que nasce num minuto de invigilância gera consequências que terminam somente muito depois.

Evangelho e Espiritismo são roteiros abençoados tanto quanto dever e disciplina representam vias de evolução.

Mesmo ultrajado, o cristão persevera inalterável na gentileza.

Caridade que se irrita é qual palácio em trevas.

Censura – tóxico do caráter.

Maledicência – esporte de atormentados.

Palavras sonoras e belas nem sempre expressam sentimentos nobres.

O papagaio também fala...

Forte é, somente, o homem que se domou a si mesmo.

Mais vale perder, sendo leal, do que triunfar, sendo astuto e espúrio.

A vitória dos ambiciosos passa com o vazio da ambição.

Quem muito se expõe, atesta dúvida quanto ao conhecimento que possui.

Bem serve quem pouco dificulta.

O espelho que melhor reflete nem sempre é consultado - chama-se consciência.

Os legítimos heróis se ignoram.

Virtude – clima de redenção.

Dor – programa de elevação.

Receie quando tudo correr muito bem.

O discípulo do Senhor da cruz nunca está bem.

Sedento de luz e paz, não estaciona, não demora, não ganha.

Tudo sofre, dá e perde, não obstante avançando sempre.

Não deixe de pensar nas coisas lá do alto.


Marco Prisco 



















Miramez - Livro Horizontes da Fala - João Nunes Maia - Cap. 7 - Prática e teoria



Miramez - Livro Horizontes da Fala - João Nunes Maia - Cap. 7


Prática e teoria


Prática e teoria são duas forças indispensáveis na nossa jornada de ascensão espiritual. Uma sem a outra é como a noite sem o dia, a fé sem a razão, o homem sem a mulher, o papel sem a tinta, as ideias sem a voz…

Deves sempre aliar a teoria e prática, ou fundi-las em uma só expressão de vivência, para que o caminho do aprendizado fique mais curto e mais proveitoso. Cada coisa que te falamos – perdoa-nos se estamos esquecendo a modéstia – já foram por nós submetidas a longas experiências. Esperamos que repitas muitas vezes esse aglomerado de lições sobre a fala, porque os resultados são os melhores possíveis. Ganharás muita esperança e confiança em ti mesmo, para outros trabalhos.

Tudo na natureza fala da necessidade peculiar ao seu reino; o intercâmbio entre a criação não se restringe somente aos homens, cada coisa se entende com a sua espécie, obedecendo a lei do seu estado de evolução. Compete, pois, a nós outros, no esplendor da razão, entender e respeitar a retaguarda, para que luzes à nossa frente nos tolerem e compreendam igualmente. Se o nosso objetivo maior é educar, porque esquecermos o tempo com distrações que não se amoldam mais as condições espirituais que já alcançamos? O arado nos espera, e é bom que a nossa visão se ocupe somente com a frente. Se te consideras discípulo da verdade, e já pulsa em teu coração a ânsia de liberdade, inspira-te também neste tópico evangélico: “E, quanto a nós, nos consagremos à oração e ao  ministério da palavra – Atos, 6:4).

Paulo falava, com convicção, da necessidade dos seus companheiros se dedicarem ao aprimoramento do exercício da oração e do ministério da palavra. A palavra estruturada nos moldes do Cristo foi, e continuará sendo, semente de luz, água divina, alimento do coração no seio da eternidade. Dediquemo-nos à sua execução, com toda a nossa alma,  revestindo-a com toda a nossa alegria, senão amor puro, para que possamos viver com Jesus, na hora de todas as nossas conversações.

Sê ameno no falar e paciente no ouvir; não gastes todo o tempo em que duas bocas podem falar; se precisas de alguém para te ouvir, é de justiça que escutes o que esse alguém tem para te falar. De pequenos consertos no modo de ser, é que poderás ascender aos píncaros das bem-aventuranças.  É de pequenas letras do alfabeto que se constitui a gloriosa literatura do mundo. A delicadeza fica mais viva quando é assessorada pelo magnetismo do amor, nos sons da fala. A alegria pura fica mais completa, quando dos lábios afloram a satisfação  e o amor mais esplendente, quando a boca registra a sua presença no coração. E então terá confirmada a assertiva do Mestre dos Mestres aos Seus discípulos: “O céu está dentro de vós” – Lucas, 17:21.

O homem evoluído pode perfeitamente viver no céu, onde estiver, desde que tenha alcançado o domínio completo dos seus instintos inferiores. E o estudante que não esmorece sente, de vez em quando, a aproximação desse ambiente de luz no centro do seu ser, afirmando assim a sua existência em nós, faltando apenas algumas coisas para o alcançarmos. E é isso que nos incentiva a continuar a lutar conosco mesmo. O empenho maior da vida é despertar em nós esses valores imortais que o Pai nos deu para cultivar. A teoria incentiva a prática e a disciplina, a teoria. A máquina da estrada de ferro corre com segurança sobre os trilhos. Faze da teoria e da prática os dois trilhos da tua vida, e avança em direção a luz, exercitando as boas práticas todos os dias, sem alarde ou fanatismo, com o bom senso que a grandeza d´alma te confere. E demo-nos as mãos, todos juntos, nesse cântico de amor que todos conhecemos: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos”, não somente pensando, como também, falando.


Miramez
















Espírito Ayrtes - Livro Tua Casa - João Nunes Maia - Cap. 12 - Teu Futuro



Espírito Ayrtes - Livro Tua Casa - João Nunes Maia - Cap. 12


Teu Futuro


A ideia futuro às vezes assombra os que pensam nele. O medo é por desconhecimento do que venha a ser o porvir para nós. Entretanto, a Doutrina dos Espíritos nos esclarece sobre nossos destinos, mostrando-nos que a nossa posteridade, até certo ponto, depende de nós. Nosso futuro será justamente o que plantarmos no presente. As sementes sempre frutificam em favor dos que as plantam. Desta maneira, ficaremos tranquilos com os horizontes de nossa vida, se estivermos procurando viver bem nesta. Tudo o que sai de nós se multiplica em nossos caminhos; essa é a verdade que não se desfaz com o tempo, vencendo também o espaço.

A palavra que espera a nossa exaltação nesta página é Dever, O teu futuro depende do resguardo do Dever, Obrigação é compromisso que fizemos para ser cumprido na desenrolar da nossa própria vida. A existência da alma está cheia de encargos; se assim não fosse, qual o motivo de viver? Obriga-nos a consciência a examinar todos os dias nossas ações; se cumprimos nossas obrigações para com a vida, é imperativo de nossa parte este exame, porque se esquecermos algumas delas, a ratificação é uma incumbência maior. Qual o ser encarnado - e mesmo desencarnado que não tem responsabilidades? Todos nós a temos; Deus orienta a criação e a assiste através dos Seus filhos conscientes dos deveres a cumprir.

Todas as atribuições a nós entregues são porque alguém confiou em nós e é de nosso Dever retribuir essa confiança, desincumbindo-nos de nossa missão com honestidade. O futuro verdadeiramente nos espera para nos entregar o que plantamos no presente, assim como o presente é reflexo do passado. A justiça opera sem falhas e nos dá o que damos, nos oferta o que ofertamos. Cada ser humano tem uma missão a desempenhar na Terra - no lar e fora dele, como dívida ou como crédito, não importando os meios e as condições. Importa que lutemos para melhorar as nossas condições espirituais, sem que o esmorecimento nos tome nos caminhos e nos faça recuar.

Se queres um futuro de paz, planta-o no presente, mesmo que te custe sacrifícios inúmeros e revides sem conta de tua própria natureza, O Espírito é Espírito e como tal deve vencer todas as dificuldades, para alcançar a glória de Deus e a paz imperturbável da consciência. O tempo que há de vir é feito pelo tempo que já veio; conscientiza-te disto, que o teu coração passará a compreender o teu verdadeiro Dever para com a tua existência. Dizem os maiores que a felicidade tem algo do Dever cumprido. Conjuguemos nossos esforços na amplitude de todas as oportunidades, para que no amanhã sejamos livres daquilo a que chamamos ignorância. O Espírito é uma vida volante, com condições de se mover pelo próprio esforço dentro da casa grande de Deus, com muitas regalias. As emoções que o bem pode nos proporcionar são tamanhas, que desconhecemos suas manifestações, principalmente as mais profundas. Mesmo estas, é necessário que nos preparemos para desfrutá-las. Isto é o céu; é o futuro que espera todos nós, porque Deus é amor. 


Espírito Ayrtes

















Humberto de Campos - Livro Luz Acima - Chico Xavier - Cap. 31 - Os maiores inimigos



Humberto de Campos - Livro Luz Acima - Chico Xavier - Cap. 31


Os maiores inimigos


Certa feita, Simão Pedro perguntou a Jesus:

— Senhor, como saberei onde vivem nossos maiores inimigos? Quero combatê-los, a fim de trabalhar com eficiência pelo Reino de Deus.

Iam os dois de caminho, entre Cafarnaum e Magdala, ao sol rutilante de perfumada manhã.

O Mestre ouviu e mergulhou-se em longa meditação.

Insistindo, porém, o discípulo, ele respondeu benevolamente:

— A experiência tudo revela no momento preciso.

— Oh! — exclamou Simão, impaciente — a experiência demora muitíssimo…

O Amigo Divino esclareceu, imperturbável:

— Para os que possuem “olhos de ver” e “ouvidos de ouvir”, uma hora, às vezes, basta ao aprendizado de inesquecíveis lições.

Pedro calou-se, desencantado.

Antes que pudesse retornar às interrogações, notou que alguém se esgueirava por trás de velhas figueiras, erguidas à margem. O apóstolo empalideceu e obrigou o Mestre a interromper a marcha, declarando que o desconhecido era um fariseu que procurava assassiná-lo. Com palavras ásperas desafiou o viajante anônimo a afastar-se, ameaçando-o, sob forte irritação. E quando tentava agarrá-lo, à viva força, diamantina risada se fez ouvir. A suposição era injusta. Ao invés de um fariseu, foi André, o próprio irmão dele, quem surgiu sorridente, associando-se à pequena caravana.

Jesus endereçou expressivo gesto a Simão e obtemperou:

— Pedro, nunca te esqueças de que o medo é um adversário terrível.

Recomposto o grupo, não haviam avançado muito, quando avistaram um levita que recitava passagens da Tora e lhes dirigiu a palavra, menos respeitoso.

Simão inchou-se de cólera. Reagiu e discutiu, longe das noções de tolerância fraterna, até que o interlocutor fugiu, amedrontado.

O Mestre, até então silencioso, fixou no aprendiz os olhos muito lúcidos e inquiriu:

— Pedro, qual é a primeira obrigação do homem que se candidata ao Reino Celeste?

A resposta veio clara e breve:

— Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

— Terás observado a regra sublime, neste conflito? — continuou o Cristo, serenamente — recorda que, antes de tudo, é indispensável nosso auxílio ao que ignora o verdadeiro bem e não olvides que a cólera é um perseguidor cruel.

Mais alguns passos e encontraram Teofrasto, judeu grego dado à venda de perfumes, que informou sobre certo Zeconias, leproso curado pelo profeta nazareno e que fugira para Jerusalém, onde acusava o Messias com falsas alegações.

O pescador não se conteve. Gritou que Zeconias era um ingrato, relacionou os benefícios que Jesus lhe prestara e internou-se em longos e amargosos comentários, amaldiçoando-lhe o nome.

Terminando, o Cristo indagou-lhe:

— Pedro, quantas vezes perdoarás a teu irmão?

— Até setenta vezes sete — replicou o apóstolo, humilde.

O Amigo Celeste contemplou-o, calmo, e rematou:

— A dureza é um carrasco da alma.

Não atravessaram grande distância e cruzaram com Rufo Grácus, velho romano semiparalítico, que lhes sorriu, desdenhoso, do alto da liteira sustentada pelos escravos fortes.

Marcando-lhe o gesto sarcástico, Simão falou sem rebuços:

— Desejaria curar aquele pecador impenitente, a fim de dobrar-lhe o coração para Deus.

Jesus, porém, afagou-lhe o ombro e ajuntou:

— Por que instituiríamos a violência no mundo, se o próprio Pai nunca se impôs a ninguém?

E, ante o companheiro desapontado, concluiu:

— A vaidade é um verdugo sutil.

Daí a minutos, para repasto ligeiro, chegavam à hospedaria modesta de Aminadab, um seguidor das ideias novas.

À mesa, um certo Zadias, liberto de Cesareia, se pôs a comentar os acontecimentos políticos da época. Indicou os erros e desmandos da Corte Imperial, ao que Simão correspondeu, colaborando na poda verbalística. Dignitários e filósofos, administradores e artistas de além-mar sofreram apontamentos ferinos. Tibério foi invocado com impiedosas recriminações.

Finda a animada palestra, Jesus perguntou ao discípulo se acaso estivera alguma vez em Roma.

O esclarecimento veio depressa:

— Nunca.

O Cristo sorriu e observou:

— Falaste com tamanha desenvoltura sobre o Imperador que me pareceu estar diante de alguém que com ele houvesse privado intimamente.

Em seguida, acrescentou:

— Estejamos convictos de que a maledicência é algoz terrível.

O pescador de Cafarnaum silenciou, desconcertado.

O Mestre contemplou a paisagem exterior, fitando a posição do astro do dia, como a consultar o tempo, e, voltando-se para o companheiro invigilante, acentuou, bondoso:

— Pedro, há precisamente uma hora procuravas situar o domicílio de nossos maiores adversários. De então para cá, cinco apareceram, entre nós: o medo, a cólera, a dureza, a vaidade e a maledicência… Como reconheces, nossos piores inimigos moram em nosso próprio coração.

E, sorrindo, finalizou:

— Dentro de nós mesmos, será travada a guerra maior.


Humberto de Campos
(Irmão X)















Emmanuel - Livro Seara dos Médiuns - Chico Xavier - Cap. 68 - Sabes



Emmanuel - Livro Seara dos Médiuns - Chico Xavier - Cap. 68


Sabes


Reunião pública de 16-9-1960.

Questão n.º 226 - § 3.º


Tanto quanto os médiuns, nós todos.

Todos nós, na assimilação da ideia espírita, recebemos uma luz alimentada pela essência do Evangelho.

E a missão da luz, acima de tudo, é revelar a fim de que possamos compreender.

Todos guardamos, assim, a faculdade superior de entender para auxiliar.

Nunca te afirmes, desse modo, sem orientação.

Sabes que te encontras na Terra, não somente resgatando o passado, mas também construindo o futuro.

Sabes que os parentes-enigmas, em verdade, são credores que deixaste a distância, reincorporados agora na faixa de teus dias, a fim de que solvas os compromissos da tua alma e aprendas quanto dói complicar os destinos alheios.

Sabes que os ofensores, transfigurados em verdugos, na maioria das vezes são grandes obsidiados por entidades sombrias, colocados diante de ti pelo mundo, à maneira de testes longos, em que possas demonstrar praticamente a virtude que ensinas.

Sabes que as dificuldades, semelhando espinheiros magnéticos no campo de trabalho, são recursos que a vida te oferece, de modo a que não falhes na conquista da experiência.

Sabes que a dor, parecendo brasa invisível no pensamento, guarda a função de alertar-te contra quedas maiores nos resvaladouros da ignorância.

Unge-te, pois, de caridade e de paciência, se aspiras a executar o que deves.

O preço da vitória chama-se luta.

Ideia espírita é lâmpada acesa, para que todos vejamos claro, e a existência na Terra é caminho para a Esfera Superior.

Não te lastimes se a subida aborrece e cansa, pela cruz que carregas.

Ora pelos que te perseguem e abençoa os que te injuriam.

Quantos julgavam haver aniquilado o Cristo, no alto de um monte, apenas conseguiram transformá-lo em baliza de luz.


Emmanuel













segunda-feira, 29 de abril de 2024

Emmanuel - Livro Pensamento e Vida - Chico Xavier - Cap. 15 - Saúde



Emmanuel - Livro Pensamento e Vida - Chico Xavier - Cap. 15


Saúde


A saúde é assim como a posição de uma residência que denuncia as condições do morador, ou de um instrumento que reproduz em si o zelo ou a desídia das mãos que o manejam.

A falta cometida opera em nossa mente um estado de perturbação, ao qual não se reúnem simplesmente as forças desvairadas de nosso arrependimento, mas também as ondas de pesar e acusação da vítima e de quantos se lhe associam ao sentimento, instaurando desarmonias de vastas proporções nos centros da alma, a percutirem sobre a nossa própria instrumentação.

Semelhante descontrole apresenta graus diferentes, provocando lesões funcionais diversas.

A cólera e o desespero, a crueldade e a intemperança criam zonas mórbidas de natureza particular no cosmo orgânico, impondo às células a distonia pela qual se anulam quase todos os recursos de defesa, abrindo-se leira fértil à cultura de micróbios patogênicos nos órgãos menos habilitados à resistência.

É assim que, muitas vezes, a tuberculose e o câncer, a lepra e a ulceração aparecem como fenômenos secundários, residindo a causa primária no desequilíbrio dos reflexos da vida interior.

Todos os sintomas mentais depressivos influenciam as células em estado de mitose, estabelecendo fatores de desagregação.

Por outro lado, importa reconhecer que o relaxamento da nutrição constrange o corpo a pesados tributos de sofrimento.

Enquanto encarnados, é natural que as vidas infinitesimais que nos constituem o veículo de existência retratem as substâncias que ingerimos.

Nesse trabalho de permuta constante adquirimos imensa quantidade de bactérias patogênicas que, em se instalando comodamente no mundo celular, podem determinar moléstias infecciosas de variegados caracteres, compelindo-nos a recolher, assim, de volta, os resultados de nossa imprevidência.

Mas não é somente aí, no domínio das causas visíveis, que se originam os processos patológicos multiformes.

Nossas emoções doentias mais profundas, quaisquer que sejam, geram estados enfermiços.

Os reflexos dos sentimentos menos dignos que alimentamos voltam-se sobre nós mesmos, depois de convertidos em ondas mentais, tumultuando o serviço das células nervosas que, instaladas na pele, nas vísceras, na medula e no tronco cerebral, desempenham as mais avançadas funções técnicas; acentue-se, ainda, que esses reflexos menos felizes, em se derramando sobre o córtex encefálico, produzem alucinações que podem variar da fobia oculta à loucura manifesta, pelas quais os reflexos daqueles companheiros encarnados ou desencarnados, que se nos conjugam ao modo de proceder e de ser, nos atingem com sugestões destruidoras, diretas ou indiretas, conduzindo-nos a deploráveis fenômenos de alienação mental, na obsessão comum, ainda mesmo quando no jogo das aparências possamos aparecer como pessoas espiritualmente sadias.

Não nos esqueçamos, assim, de que apenas o sentimento reto pode esboçar o reto pensamento, sem os quais a alma adoece pela carência de equilíbrio interior, imprimindo no aparelho somático os desvarios e as perturbações que lhe são consequentes.


Emmanuel














Irmã Scheilla - Livro Luz no Lar - Espíritos Diversos / Chico Xavier - Cap. 9 - Luz no lar



Irmã Scheilla - Livro Luz no Lar - Espíritos Diversos / Chico Xavier - Cap. 9


Luz no lar


Se a tempestade nos devasta as plantações, não nos esqueçamos do Espaço Divino do Lar, onde o canteiro de nossa boa vontade, na vinha do Senhor, deve e pode florir para a frutificação, a benefício de todos.

Organizemos o nosso agrupamento doméstico do Evangelho.

O lar é o coração do organismo social.

Em casa, começa nossa missão no mundo.

Entre as paredes do templo familiar, preparamo-nos para a vida com todos.

Seremos, lá fora, no grande campo da experiência pública, o prosseguimento daquilo que já somos na intimidade de nós mesmos.

Fujamos à frustração espiritual e busquemos no relicário doméstico o sublime cultivo dos nossos ideais com Jesus.

O Evangelho foi iniciado na Manjedoura e demorou-se na casa humilde e operosa de Nazaré, antes de espraiar-se pelo mundo.

Não há serviço da fé viva, sem aquiescência e concurso do coração.

Se possível, continuemos trabalhando sob a tormenta, removendo os espinheiros da discórdia ou transformando as pedras do mal em flores de compreensão, suportando, com heroísmo, o clima do sacrifício, mas, se a ventania nos compele a pausas de repouso, não admitamos o bolor do desânimo nos serviços iniciados.

Sustentemos em casa a chama de nossa esperança, estudando a Revelação Divina, praticando a fraternidade e crescendo em amor e sabedoria, porque, segundo a promessa do Evangelho Redentor, “onde estiverem dois ou três corações reunidos em Seu Nome”, aí estará Jesus, amparando-nos para a ascensão à Luz Celestial, hoje, amanhã e sempre.


Irmã Scheilla














André Luiz - Livro Busca e Acharás - Emmanuel / André Luiz - Chico Xavier - Cap. 34 - Aviso calmante



André Luiz - Livro Busca e Acharás - Emmanuel / André Luiz - Chico Xavier - Cap. 34


Aviso calmante


O trabalho eficiente deve ser planejado, mas não olvides que as circunstâncias procedem da Vida Superior.

O tempo é um rio de surpresas.

Use o apoio da bondade e a bateia da tolerância para colher ouro da Providência Divina no cascalho dos fatos desagradáveis.

A conversa fastidiosa talvez seja o veículo de valiosa indicação.

A visita que não se espera provavelmente traga uma bênção.

O obstáculo com que não se contava, em muitas ocasiões, traduz o amparo da Espiritualidade Maior, antes que certa dificuldade apareça.

O aborrecimento de um minuto pode ser a pausa de aviso salvador.

A enfermidade súbita, quase sempre, é o processo de que se utiliza o Plano Superior para se impedir uma queda espetacular.

Atenda ao seu programa de ação, conforme os seus encargos, mas não se esqueça da paciência na trilha das suas horas.

Cada um de nós é chamado para a execução de tarefa determinada, mas a habilitação para isso vem de Deus.


André Luiz










Fonte: Bíblia do Caminho † Testamento Xavieriano

sábado, 27 de abril de 2024

Neio Lúcio - Livro Jesus no Lar - Chico Xavier - Cap. 9 - O mensageiro do amor



Neio Lúcio - Livro Jesus no Lar - Chico Xavier - Cap. 9 - O mensageiro do amor


Falava-se na reunião, com respeito à preponderância dos sábios na Terra, quando Jesus tomou a palavra e contou, sereno e simples:

— Há muitos anos, quando o mundo perigava em calamitosa crise de ignorância e perversidade, o Poderoso Pai enviou-lhe um mensageiro da ciência, com a missão de entregar-lhe gloriosa mensagem de vida eterna. Tomando forma, nos Círculos da carne, o esclarecido obreiro fez-se professor e, sumamente interessado em letras, apaixonou-se exclusivamente pelas obras da inteligência, afastando-se, enojado, da multidão inconsciente e declarando que vivia numa vanguarda luminosa, inacessível à compreensão das pessoas comuns. 

Observando-o incapaz de atender aos compromissos assumidos, o Senhor Compassivo providenciou a viagem de outro portador da ciência que, decorrido algum tempo, se transformou em médico admirado. O novo arauto da Providência refugiou-se numa sala de ervas e beberagens, interessando-se tão somente pelo contato com enfermos importantes, habilitados a concessão de grandes recompensas, afirmando que a plebe era demasiado mesquinha para cativar-lhe a atenção. 

O Todo-Bondoso determinou, então, a vinda de outro emissário da ciência, que se converteu em guerreiro célebre. Usou a espada do cálculo com mestria, pôs-se à ilharga de homens astuciosos e vingativos e, afastando-se dos humildes e dos pobres, afirmava que a única finalidade do povo era a de salientar a glória dos dominadores sanguinolentos. 

Contristado com tanto insucesso, o Senhor Supremo expediu outro missionário da ciência, que, em breve, se fez primoroso artista. Isolou-se nos salões ricos e fartos, compondo música que embriagasse de prazer o coração dos homens provisoriamente felizes e afiançou que o populacho não lhe seduzia a sensibilidade que ele mesmo acreditava excessivamente avançada para o seu tempo.

Foi, então, que o Excelso Pai, preocupado com tantas negações, ordenou a vinda de um mensageiro de amor aos homens.

Esse outro enviado enxergou todos os quadros da Terra, com imensa piedade. Compadeceu-se do professor, do médico, do guerreiro e do artista, tanto quanto se comoveu ante a desventura e a selvageria da multidão e, decidido a trabalhar em nome de Deus, transformou-se no servo diligente de todos.

Passou a agir em benefício geral e, identificado com o povo a que viera servir, sabia desculpar infinitamente e repetir mil vezes o mesmo esforço ou a mesma lição. Se era humilhado ou perseguido, buscava compreender na ofensa um desafio benéfico à sua capacidade de desdobrar-se na ação regeneradora, para testemunhar reconhecimento à confiança do Pai que o enviara. 

Por amar sem reservas os seus irmãos de luta, em muitas situações foi compelido a orar e pedir o socorro do Céu, perante as garras da calúnia e do sarcasmo; entretanto, entendia, nas mais baixas manifestações da natureza humana, dobrados motivos para consagrar-se, com mais calor, à melhoria dos companheiros animalizados, que ainda desconheciam a grandeza e a sublimidade do Pai Benevolente que lhes dera o ser.

Foi assim, fazendo-se o último de todos, que conseguiu acender a luz da fé renovadora e da bondade pura no coração das criaturas terrestres, elevando-as a mais alto nível, com plena vitória na divina missão de que fora investido.

Houve ligeira pausa na palavra doce do Messias e, ante a quietude que se fizera espontânea no ruidoso ambiente de minutos antes, concluiu ele, com expressivo acento na voz:

— Cultura e santificação representam forças inseparáveis da glória espiritual. A sabedoria e o amor são as duas asas dos anjos que alcançaram o Trono Divino, mas, em toda parte, quem ama segue à frente daquele que simplesmente sabe.


Neio Lúcio












Allan Kardec - O Evangelho Segundo o Espiritismo - Cap. 25 - Buscai e achareis - Observai os pássaros do céu - Item 8



Allan Kardec - O Evangelho Segundo o Espiritismo - Cap. 25 - Buscai e achareis


Observai os pássaros do céu 


8. A Terra produzirá o suficiente para alimentar a todos os seus habitantes, quando os homens souberem administrar, segundo as leis de justiça, de caridade e de amor ao próximo, os bens que ela dá. Quando a fraternidade reinar entre os povos, como entre as províncias de um mesmo império, o momentâneo supérfluo de um suprirá a momentânea insuficiência do outro; e cada um terá o necessário. O rico, então, considerar-se-á como um que possui grande quantidade de sementes; se as espalhar, elas produzirão pelo cêntuplo para si e para os outros; se, entretanto, comer sozinho as sementes, se as desperdiçar e deixar se perca o excedente do que haja comido, nada produzirão, e não haverá o bastante para todos. Se as amontoar no seu celeiro, os vermes as devorarão. Daí o haver Jesus dito: “Não acumuleis tesouros na Terra, pois que são perecíveis; acumulai-os no céu, onde são eternos.” Em outros termos: não ligueis aos bens materiais mais importância do que aos espirituais e sabei sacrificar os primeiros aos segundos. (Cap. XVI, n. os 7 e seguintes.)

A caridade e a fraternidade não se decretam em leis. Se uma e outra não estiverem no coração, o egoísmo aí sempre imperará. Cabe ao Espiritismo fazê-las penetrar nele.


Allan Kardec










Fonte: Kardecpedia

Léon Denis - Livro O Problema do Ser, do Destino e da Dor - Introdução



Léon Denis - Livro O Problema do Ser, do Destino e da Dor


Introdução


Uma dolorosa observação surpreende o pensador no ocaso da vida. Resulta também, mais pungente, das im­pressões sentidas em seu giro pelo espaço. Reconhece ele então que, se o ensino ministrado pelas instituições hu­manas, em geral — religiões, escolas, universidades —, nos faz conhecer muitas coisas supérfluas, em compensação quase nada ensina do que mais precisamos conhecer para encaminhamento da existência terrestre e preparação para o Além.

Aqueles a quem incumbe a alta missão de esclarecer e guiar a alma humana parecem ignorar a sua natureza e os seus verdadeiros destinos.

Nos meios universitários reina ainda completa incer­teza sobre a solução do mais importante problema com que o homem jamais se defronta em sua passagem pela Terra. Essa incerteza se reflete em todo o ensino. A maior parte dos professores e pedagogos afasta sistematica­mente de suas lições tudo que se refere ao problema da vida, às questões de termo e finalidade...

A mesma impotência encontramos no padre. Por suas afirmações despidas de provas, apenas consegue comu­nicar às almas que lhe estão confiadas uma crença que já não corresponde às regras duma crítica sã nem às exigências da razão.

Com efeito, na Universidade, como na Igreja, a alma moderna não encontra senão obscuridade e contradição em tudo quanto respeita ao problema de sua natureza e de seu futuro. É a esse estado de coisas que se deve atribuir, em grande parte, os males de nossa época, a in­coerência das idéias, a desordem das consciências, a anar­quia moral e social.

A educação que se dá às gerações é complicada; mas, não lhes esclarece o caminho da vida; não lhes dá a têmpera necessária para as lutas da existência. O ensino clássico pode guiar no cultivo, no ornamento da inteligência; não inspira, entretanto, a ação, o amor, a dedicação. Ainda menos obtém se faça uma concepção da vida e do destino que desenvolva as energias profundas do eu e nos oriente os impulsos e os esforços para um fim elevado. Essa concepção, no entanto, é indispensável a todo ser, a toda sociedade, porque é o sustentáculo, a consolação suprema nas horas difíceis, a origem das virtudes másculas e das altas inspirações.

Carl du Prel refere o fato seguinte (1):

"Um amigo meu, professor da Universidade, passou pela dor de perder a filha, o que lhe reavivou o problema da imortalidade. Dirigiu-se aos colegas, professores de Filosofia, esperando achar consolações em suas respostas. Amarga decepção: pedira um pão, ofereciam-lhe uma pedra; procurava uma afirmação, respondiam-lhe com um talvez!’’

Francisque Sarcey (1-A), modelo completo do professor da Universidade, escrevia: (2) "Estou na Terra. Ignoro absolutamente como aqui vim ter e como aqui fui lançado. Não ignoro menos como daqui sairei e o que de mim será quando daqui sair."

Ninguém o confessaria mais francamente: a filosofia da escola, depois de tantos séculos de estudo e de labor, é ainda uma doutrina sem luz, sem calor, sem vida (3).

A alma de nossos filhos, sacudida entre sistemas diversos e contraditórios — o positivismo de Auguste Comte, o naturalismo de Hegel, o materialismo de Stuart Mill, o ecletismo de Cousin, etc. —, flutua incerta, sem ideal, sem fim preciso.

Daí o desânimo precoce e o pessimismo dissolvente, moléstias das sociedades decadentes, ameaças terríveis para o futuro, a que se junta o cepticismo amargo e zombeteiro de tantos moços da nossa época; em nada mais creem do que na riqueza, nada mais honram que o êxito.

O eminente professor Raoul Pictet assinala esse estado de espírito na Introdução da sua última obra sobre as ciências psíquicas (4). Fala ele do efeito desastroso produzido pelas teorias materialistas na mentalidade de seus alunos, e conclui assim:

"Esses pobres moços admitem que tudo quanto se passa no mundo é efeito necessário e fatal de condições primárias, em que a vontade não intervém; consideram que a própria existência é, forçosamente, joguete da fatalidade inelutável, à qual estão entregues de pés e mãos ligados.

Esses moços cessam de lutar logo às primeiras dificuldades. Já não creem em si mesmos. Tornam-se túmulos vivos, onde se encerram, promiscuamente, suas esperanças, seus esforços, seus desejos, fossa comum de tudo o que lhes fez bater o coração até ao dia do envenenamento. Tenho visto desses cadáveres diante de suas carteiras e no laboratório, e tem-me causado pena vê-los."

Tudo isso não é somente aplicável a uma parte da nossa juventude; mas, também, a muitos homens do nosso tempo e da nossa geração, nos quais se pode verificar uma espécie de lassidão moral e de abatimento. F. Myers o reconhece, igualmente: "Há", diz ele (5), "como que uma inquietação, um descontentamento, uma falta de confiança no verdadeiro valor da vida. O pessimismo é a doença moral do nosso tempo."

As teorias de além-Reno (6), as doutrinas de Nietzsche, de Schopenhauer, de Haeckel, etc., muito contribuíram, por sua parte, para determinar esse estado de coisas. Sua influência por toda parte se derrama. Deve-se-lhes atribuir, em grande parte, esse lento trabalho, obra obscura de cepticismo e de desânimo, que se desenvolve na alma contemporânea, essa desagregação de tudo que fortificava a alegria, a confiança no futuro, as qualidades viris de nossa raça (7).

É tempo de reagir com vigor contra essas doutrinas funestas, e de procurar, fora da órbita oficial e das velhas crenças, novos métodos de ensino que correspondam às imperiosas necessidades da hora presente. É preciso dispor os Espíritos para os reclamos, os combates da vida presente e das vidas ulteriores; é necessário, sobretudo, ensinar o ser humano a conhecer-se, a desenvolver, sob o ponto de vista dos seus fins, as forças latentes que nele dormem.

Até aqui, o pensamento confinava-se em círculos estreitos: religiões, escolas, ou sistemas, que se excluem e combatem reciprocamente. Daí essa divisão profunda dos espíritos, essas correntes violentas e contrárias, que perturbam e confundem o meio social.

Aprendamos a sair destes círculos austeros e a dar livre expansão ao pensamento. Cada sistema contém uma parte de verdade; nenhum contém a realidade inteira.

O Universo e a vida têm aspectos muito variados, numerosos demais para que um sistema possa abraçar a todos. Destas concepções disparatadas, devem recolher-se os fragmentos de verdade que contêm, aproximando-os e pondo-os de acordo; é necessário, depois, uni-los aos novos e múltiplos aspectos da verdade que descobrirmos todos os dias, e encaminhar-nos para a unidade majestosa e para a harmonia do pensamento.

A crise moral e a decadência da nossa época provêm, em grande parte, de se ter o espírito humano imobilizado durante muito tempo. Ê necessário arrancá-lo à inércia, às rotinas seculares, levá-lo às grandes altitudes, sem perder de vista as bases sólidas que lhe vem oferecer uma ciência engrandecida e renovada. Esta ciência de amanhã, trabalhamos em constituí-la.

Ela nos fornecerá o critério indispensável, os meios de verificação e de comparação, sem os quais o pensamento, entregue a si mesmo, estará sempre em risco de desvairar.

A perturbação e a incerteza que verificamos no ensino repercutem e se encontram, dizíamos, na ordem social inteira.

Em toda parte, dentro como fora, a crise existe, inquietante. Sob a superfície brilhante de uma civilização apurada, esconde-se um mal-estar profundo. A irritação cresce nas classes sociais. O conflito dos interesses e a luta pela vida tornam-se, dia a dia, mais ásperos. O sentimento do dever se tem enfraquecido na consciência popular, a tal ponto, que muitos homens já não sabem onde está o dever. A lei do número, isto é, da força cega, domina mais do que nunca. Pérfidos retóricos dedicam-se a desencadear as paixões, os maus instintos da multidão, a propagar teorias nocivas, às vezes criminosas. Depois, quando a maré sobe e sopra o vento de tempestade, eles afastam de si toda a responsabilidade.

Onde está, pois, a explicação deste enigma, desta contradição notável entre as aspirações generosas de nosso tempo e a realidade brutal dos fatos? Por que um regime que suscitara tantas esperanças ameaça chegar à anarquia, à ruptura de todo o equilíbrio social?

A inexorável lógica vai responder-nos: a Democracia, radical ou socialista, em suas massas profundas e em seu espírito dirigente, inspirando-se nas doutrinas negativas, não podia chegar senão a um resultado negativo para a felicidade e elevação da Humanidade. Tal o ideal, tal o homem; tal a nação, tal o país!

As doutrinas negativas, em suas consequências extremas, levam fatalmente à anarquia, isto é, ao vácuo, ao nada social. A história humana já o tem experimentado dolorosamente.

Enquanto se tratou de destruir os restos do passado, de dar o último golpe nos privilégios que restavam, a Democracia serviu-se habilmente de seus meios de ação. Mas, hoje, importa reconstruir a cidade do futuro, o edifício vasto e poderoso que deve abrigar o pensamento das gerações. Diante dessas tarefas, as doutrinas negativistas mostram sua insuficiência e revelam sua fragilidade; vemos os melhores operários debaterem-se em uma espécie de impotência material e moral.

Nenhuma obra humana pode ser grande e duradoura se não se inspirar, na teoria e na prática, em seus princípios e em suas explicações, nas leis eternas do Universo. Tudo o que é concebido e edificado fora das leis superiores se funda na areia e desmorona.

Ora, as doutrinas do socialismo atual têm uma tara capital. Querem impor uma regra em contradição com a Natureza e a verdadeira lei da Humanidade: o nível igualitário.

A evolução gradual e progressiva é a lei fundamental da Natureza e da vida. É a razão de ser do homem, a norma do Universo. Insurgir-se contra essa lei, substituir-lhe por outro o fim, seria tão insensato como querer parar o movimento da Terra ou o fluxo e o refluxo dos oceanos.

O lado mais fraco da doutrina socialista é a ignorância absoluta do homem, de seu princípio essencial, das leis que presidem ao seu destino. E quando se ignora o homem individual, como se poderia governar o homem social?

A origem de todos os nossos males está em nossa falta de saber e em nossa inferioridade moral. Toda a sociedade permanecerá débil, impotente e dividida durante todo o tempo em que a desconfiança, a dúvida, o egoísmo, a inveja e o ódio a dominarem. Não se transforma uma sociedade por meio de leis. As leis e as instituições nada são sem os costumes, sem as crenças elevadas. Quaisquer que sejam a forma política e a legislação de um povo, se ele possui bons costumes e fortes convicções, será sempre mais feliz e poderoso do que outro povo de moralidade inferior.

Sendo uma sociedade a resultante das forças individuais, boas ou más, para se melhorar a forma dessa sociedade é preciso agir primeiro sobre a inteligência e sobre a consciência dos indivíduos.

Mas, para a Democracia socialista, o homem interior, o homem da consciência individual não existe; a coletividade o absorve por inteiro. Os princípios que ela adota não são mais do que uma negação de toda filosofia elevada e de toda causa superior. Não se procura outra coisa senão conquistar direitos; entretanto, o gozo dos direitos não pode ser obtido sem a prática dos deveres. O direito sem o dever, que o limita e corrige, só pode produzir novas dilacerações, novos sofrimentos.

Eis por que o impulso formidável do Socialismo não faria senão deslocar os apetites, as ambições, os sofrimentos, e substituir as opressões do passado por um despotismo novo, mais intolerável ainda.

Já podemos medir a extensão dos desastres causados pelas doutrinas negativas. O Determinismo, o Monismo, o Materialismo, negando a liberdade humana e a responsabilidade, minam as próprias bases da Ética universal. O mundo moral não é mais que um anexo da Fisiologia, isto é, o reinado, a manifestação da força cega e irresponsável. Os espíritos de escol professam o Niilismo metafísico, e a massa humana, o povo, sem crenças, sem princípios fixos, está entregue a homens que lhe exploram as paixões e especulam com suas ambições.

O Positivismo, apesar de ser menos absoluto, não é menos funesto em suas consequências. Por suas teorias do desconhecido, suprime ele as noções de fim e de larga evolução. Toma o homem na fase atual de sua vida, simples fragmento de seu destino, e o impede de ver para diante e para trás de si. Método estéril e perigoso, feito, parece, para cegos de espírito, e que se tem proclamado muito falsamente como a mais bela conquista do espírito moderno.

Tal é o atual estado da Sociedade. O perigo é imenso e, se alguma grande renovação espiritualista e científica não se produzisse, o mundo soçobraria na incoerência e na confusão.

Nossos homens de governo sentem já o que lhes custa viver numa sociedade em que as bases essenciais da moral estão abaladas, em que as sanções são factícias ou impotentes, em que tudo se funde, até a noção elementar do bem e do mal.

As igrejas, é verdade, apesar de suas fórmulas antiquadas e de seu espirito retrógrado, agrupam ainda ao redor de si muitas almas sensíveis; mas, tornaram-se incapazes de conjurar o perigo, pela impossibilidade em que se colocaram de fornecer uma definição precisa do destino humano e do Além, apoiada em fatos probantes e bem estabelecidos. A religião, que teria, sobre esse ponto capital, o mais alto interesse em se pronunciar, conserva-se no vago.

A Humanidade, cansada dos dogmas e das especulações sem provas, mergulhou no materialismo, ou na indiferença. Não há salvação para o pensamento, senão numa doutrina baseada sobre a experiência e o testemunho dos fatos.

Donde virá essa doutrina? Do abismo em que nos arrastamos, que poder nos livrará? Que ideal novo virá dar ao homem a confiança no futuro e o fervor pelo bem? Nas horas trágicas da História, quando tudo parecia desesperado, nunca faltou o socorro. A alma humana não se pode afundar inteiramente e perecer. No momento em que as crenças do passado se velam, uma concepção nova da vida e do destino, baseada na ciência dos fatos, reaparece. A grande tradição revive sob formas engrandecidas, mais novas e mais belas. Mostra a todos um futuro cheio de esperanças e de promessas. Saudemos o novo reino da Ideia, vitoriosa da Matéria, e trabalhemos para preparar-lhe o caminho.

A tarefa a cumprir é grande. A educação do homem deve ser inteiramente refeita. Essa educação, já o vimos, nem a Universidade, nem a Igreja estão em condições de a fornecer, pois que já não possuem as sínteses necessárias para esclarecerem a marcha das novas gerações. Uma só doutrina pode oferecer essa síntese, a do Espiritualismo cientifico; já ela sobe no horizonte do mundo intelectual e parece que há de iluminar o futuro.

A essa filosofia, a essa ciência, livre, independente, emancipada de toda pressão oficial, de todo compromisso político, as descobertas contemporâneas trazem cada dia novas e preciosas contribuições. Os fenômenos do Magnetismo, da radioatividade, da telepatia, são aplicações de um mesmo principio, manifestações de uma mesma lei, que rege conjuntamente o ser e o Universo.

Ainda alguns anos de labor paciente, de experimentação conscienciosa, de pesquisas perseverantes, e a nova educação terá encontrado sua fórmula científica, sua base essencial. Esse acontecimento será o maior fato da História, desde o aparecimento do Cristianismo.

A educação, sabe-se, é o mais poderoso fator do progresso, pois contém em gérmen todo o futuro. Mas, para ser completa, deve inspirar-se no estudo da vida sob suas duas formas alternantes, visível e invisível, em sua plenitude, em sua evolução ascendente para os cimos da natureza e do pensamento.

Os preceptores da Humanidade têm, pois, um dever imediato a cumprir. É o de repor o Espiritualismo na base da educação, trabalhando para refazer o homem interior e a saúde moral. É necessário despertar a alma humana adormecida por uma retórica funesta; mostrar-lhe seus poderes ocultos, obrigá-la a ter consciência de si mesma, a realizar seus gloriosos destinos.

A ciência moderna analisou o mundo exterior; suas penetrações no Universo objetivo são profundas; isso será sua honra e sua glória; mas nada sabe ainda do universo invisível e do mundo interior. É esse o império ilimitado que lhe resta conquistar. Saber por que laços o homem se liga ao conjunto, descer às sinuosidades misteriosas do ser, onde a sombra e a luz se misturam, como na caverna de Plutão, percorrer-lhe os labirintos, os redutos secretos, auscultar o eu normal e o eu profundo, a consciência e a subconsciência; não há estudo mais necessário. Enquanto as Escolas e as Academias não o tiverem introduzido em seus programas, nada terão feito pela educação definitiva da Humanidade.

Já, porém, vemos surgir e constituir-se uma psicologia maravilhosa e imprevista, de onde vão derivar uma nova concepção do ser e a noção de uma lei superior que abarca e resolve todos os problemas da evolução e do movimento transformador.

Um tempo se acaba; novos tempos se anunciam. A hora em que estamos é uma hora de transição e de parto doloroso. As formas esgotadas do passado empalidecem-se e se desfazem para dar lugar a outras, a princípio vagas e confusas, mas que se precisam cada vez mais. Nelas se esboça o pensamento crescente da Humanidade.

O espírito humano está em trabalho, por toda parte, sob a aparente decomposição das idéias e dos princípios; por toda parte, na Ciência, na Arte, na Filosofia e até no seio das religiões, o observador atento pode verificar que uma lenta e laboriosa gestação se produz. A Ciência, essa sobretudo, lança em profusão sementes de ricas promessas. O século que começa será o das potentes eclosões.

As formas e as concepções do passado, dizíamos, já não são suficientes. Por mais respeitável que pareça essa herança, não obstante o sentimento piedoso com que se podem considerar os ensinamentos legados por nossos pais, sente-se geralmente, compreende-se que esse ensinamento não foi suficiente para dissipar o mistério sufocante do porquê da vida.

Pode-se, entretanto, em nossa época, viver e agir com mais intensidade do que nunca; mas, pode-se viver e agir plenamente, sem se ter consciência do fim a atingir? O estado d'alma contemporâneo pede, reclama uma ciência, uma arte, uma religião de luz e de liberdade, que venham dissipar-lhe as dúvidas, libertá-lo das velhas servidões e das misérias do pensamento, guiá-lo para horizontes radiosos a que se sente levado pela própria natureza e pelo impulso de forças irresistíveis.

Fala-se muito de progresso; mas, que se entende por progresso? É uma palavra vazia e sonora na boca de oradores pela maior parte materialistas, ou tem um sentido determinado? Vinte civilizações têm passado pela Terra, iluminando com seus alvores a marcha da Humanidade. Seus grandes focos brilharam na noite dos séculos; depois, extinguiram-se. E o homem não discerne ainda, atrás dos horizontes limitados de seu pensamento, o além sem limites aonde o leva o destino. Impotente para dissipar o mistério que o cerca, estraga suas forças nas obras da Terra e foge aos esplendores de sua tarefa espiritual, tarefa que fará sua verdadeira grandeza.

A fé no progresso não caminha sem a fé no futuro, no futuro de cada um e de todos. Os homens não progridem e não se adiantam, senão crendo no futuro e marchando com confiança, com certeza para o ideal entrevisto.

O progresso não consiste somente nas obras materiais, na criação de máquinas poderosas e de toda a ferramenta industrial; do mesmo modo, não consiste em descobrir processos novos de arte, de literatura ou formas de eloquência. Seu mais alto objetivo é empolgar, atingir a ideia primordial, a ideia mãe que há de fecundar toda a vida humana, a fonte elevada e pura de onde hão de dimanar conjuntamente as verdades, os princípios e os sentimentos que inspirarão as obras de peso e as nobres ações.

É tempo de o compreender: a Civilização não se pode engrandecer, a Sociedade não pode subir, se um pensamento cada vez mais elevado, se uma luz mais viva, não vierem inspirar, esclarecer os espíritos e tocar os corações, renovando-os. Somente a ideia é mãe da ação. Somente a vontade de realizar a plenitude do ser, cada vez melhor, cada vez maior, nos pode conduzir aos cimos longínquos em que a Ciência, a Arte, toda a obra humana, numa palavra, achará sua expansão, sua regeneração.

Tudo no-lo diz: o Universo é regido pela lei da evolução; é isso o que entendemos pela palavra progresso. E nós, em nosso principio de vida, em nossa alma, em nossa consciência, estamos para sempre submetidos a essa lei. Não se pode desconhecer, hoje, essa força, essa lei soberana; ela conduz a alma e suas obras, através do infinito do tempo e do espaço, a um fim cada vez mais elevado; mas, essa lei não é realizável senão por nossos esforços.

Para fazer obra útil, para cooperar na evolução geral e recolher todos os seus frutos, é preciso, antes de tudo, aprender a discernir, a reconhecer a razão, a causa e o fim dessa evolução, saber aonde ela conduz, a fim de participar, na plenitude das forças e das faculdades que dormitam em nós, dessa ascensão grandiosa.

Nosso dever é traçar a trajetória à Humanidade futura, de que fazemos ainda parte integrante, como no-lo ensinam a comunhão das almas, a revelação dos grandes Instrutores invisíveis e como a Natureza o ensina também por seus milhares de vozes, pelo renovamento perpétuo de todas as coisas, àqueles que a sabem estudar e compreender.

Vamos, pois, para o futuro, para a vida sempre renascente, pela via imensa que nos abre um Espiritualismo regenerado!

Fé do passado, ciências, filosofias, religiões, iluminai-vos com uma chama nova; sacudi vossos velhos sudários e as cinzas que os cobrem. Escutai as vozes reveladoras do túmulo; elas nos trazem uma renovação do pensamento com os segredos do Além, que o homem tem necessidade de conhecer para melhor viver, melhor agir e melhor morrer!


Léon Denis
















(1) Carl du Prel — La Mort et l'Au-Delà, pág. 7.

(1-A) Françols Sarcey de Suttlères, célebre critico literário e conferencista inspirado, era também conhecido como Francisque Sarcey — Nota da Editora (FEB), em 1975.

(2) Fetit Journal crônica, 7 de março de 1894.

(3) A propósito dos exames universitários, escrevia M. Ducros, deão da Faculdade de Aix, no Journal des Débats, de 3 de maio de 1912: "Parece que existe entre o discípulo e as coisas um como anteparo, não sei que nuvem de palavras aprendidas, de fatos esparsos e opacos. É sobretudo em filosofia que se experimenta essa penosa impressão."

(4) Étude critique du Matérialisme et du Spiritisme par la Physique expérimentale — F. Alcan, ed., 1896.

(5) F. Myers — Human Personality.

(6) Significado de além-reno. O que é além-reno: Eram povos germânico (Germânia-além-Reno). 

(7) Estas linhas foram escritas antes da guerra de 1914-15. É preciso reconhecer que, no curso dessa luta gigantesca, a mocidade francesa demonstrou um heroísmo acima de todo elogio. Mas, nisso em nada interveio a educação nacional. Devemos, pelo contrário, ver aí um acordar das qualidades étnicas que dormitavam no coração da raça.