Allan Kardec - O Evangelho Segundo o Espiritismo - Cap. XIX - A fé transporta montanhas - Instruções dos Espíritos
A fé humana e a divina
No homem, a fé é o sentimento inato de seus destinos futuros; é a consciência que ele tem das faculdades imensas cujo gérmen foi depositado em seu íntimo, em estado latente a princípio, e que ele deve fazer eclodir e crescer por sua vontade ativa.
Até ao presente, a fé não foi compreendida senão pelo lado religioso, porque o Cristo a preconizou como poderosa alavanca, e porque se viu nele apenas o chefe de uma religião. Entretanto, o Cristo, que realizou milagres materiais, mostrou, por esses milagres mesmos, o que pode o homem quando tem fé, isto é, a vontade de querer, e a certeza de que essa vontade pode ser realizada. Também os apóstolos, seguindo-lhe o exemplo, não fizeram milagres? Ora, que eram esses milagres, senão efeitos naturais, cujas causas os homens de então desconheciam, mas que hoje se explicam em grande parte, e que se compreenderá completamente pelo estudo do Espiritismo e do Magnetismo?
A fé é humana ou divina, conforme o homem aplica suas faculdades às necessidades terrenas, ou às suas aspirações celestes e futuras. O homem de gênio que se lança à realização de algum grande empreendimento triunfa, se tem fé, porque sente em si que pode e deve chegar ao objetivo, e essa certeza lhe dá uma força imensa. O homem de bem que, crente em seu futuro celeste, quer encher de belas e nobres ações a sua vida, haure na sua fé, na certeza da felicidade que o espera, a força necessária, e ainda aí se realizam milagres de caridade, de devotamento e de abnegação. Enfim, com a fé, não há maus pendores que se não chegue a vencer.
O Magnetismo é uma das maiores provas do poder da fé posta em ação; é pela fé que ele cura e produz esses fenômenos singulares, qualificados outrora de milagres.
Repito: a fé é humana e divina; se todos os encarnados estivessem bem persuadidos da força que têm em si, e se quisessem pôr sua vontade a serviço dessa força, eles seriam capazes de realizar o a que, até hoje, chamou-se prodígios, e que é simplesmente um desenvolvimento das faculdades humanas.
Um Espírito Protetor
Paris, 1863
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