Abigail e Josefa
“Sendo livre o homem de agir num sentido ou noutro, seus atos lhe acarretam, e aos demais, conseqüências subordinadas ao que ele faz ou não. Há, pois, devidos à sua iniciativa, sucessos que forçosamente escapam à fatalidade e que não quebram a harmonia das leis universais, do mesmo modo que o avanço ou o atraso do ponteiro de um relógio não anula a lei do movimento sobre a qual se funda o mecanismo. Possível é, portanto, que Deus aceda a certos pedidos, sem perturbar a imutabilidade das leis que regem o conjunto, subordinada sempre essa anuência à sua vontade.” (O Evangelho Segundo o Espiritismo - Cap. 27 - Item 6)
(...) Muitos amigos espirituais de Josefa e D. Abigail ali compareceram, interessados, por sua vez, na tranquilidade de ambas. Bezerra de Menezes, depois de haver despertado os convidados, pediu a José Petitinga que fizesse a oração.
Em seguida, o Benfeitor Espiritual dirigiu-se a todos, explicando o porquê daquele encontro. Era preciso, disse então, liberar a alma das reminiscências amargas e dos ódios injustificados. "O passado é algema para quem nele se fixa e asa de luz para quantos o transformam em experiência bendita", asseverou Bezerra. "A aduana da consciência cobra as taxas dos erros de todos, mas não dispõe de direitos para alcançar a bagagem moral do próximo, exigindo tributos... Assim, examinemo-nos para acertar e ajudemos para que nos ajudem...", acrescentou o amorável Instrutor.
Referiu-se então ao Monsenhor Severo Augusto dos Mártires, arrependido dos erros do pretérito, na figura do Coronel Santamaria, que dava início à sua redenção, ao lado de D. Eduardina Rosa de Montalvão do Alcantilado, hoje sua filha Ester, de quem se fizera cúmplice em ardilosos crimes. "O amor que por ela nutria e o desgovernava, santifica-o hoje, mediante o desvelo e a ternura que lhe tem dado", afirmou Bezerra. Josefa (Maria do Socorro) foi acometida de um riso histérico e daí passou ao desacato verbal, quando ouviu o nome de D. Eduardina e a descrição de seus sofrimentos atuais.
Maria do Socorro recordava com nitidez o que lhe sucedera: "Tia infame e perversa!" – pôs-se a imprecar. – "Roubou-me o amante e encarcerou-me, desterrando meu filho... Arrojou-me a uma `Casa de Deus', na qual a revolta e o desespero fizeram-me odiá-lo... Nunca soube do ser que eu carregava comigo; nem sequer me deixaram vê-lo... Alegro-me por saber que ela paga... E Casimiro, onde se encontra?... Diga-me, alguém... Como o amo!"
O ódio se desintegra nas águas claras do amor - Bezerra de Menezes respondeu a Maria do Socorro: "Casimiro, filha, como tu mesma, retornou à Terra. Ouve: a Justiça de Deus não erra, nem tarda, manifesta-se, não conforme nosso agrado, porém no momento oportuno."
Manoel Philomeno de Miranda
Fonte: Grilhões Partidos -pdf
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