terça-feira, 18 de agosto de 2020

Allan Kardec - O Livro dos Espíritos - 4.ª Parte - Das esperanças e consolações - Cap. I - Das penas e gozos terrestres - Felicidade e infelicidade relativas - Questão 933 (Miramez)



Allan Kardec - O Livro dos Espíritos - 4.ª Parte - Das esperanças e consolações - Cap. I - Das penas e gozos terrestres - Felicidade e infelicidade relativas


Questão 933


Assim como, muitas vezes, é o homem o causador de seus sofrimentos materiais, também o será de seus sofrimentos morais?

“Mais ainda, porque os sofrimentos materiais algumas vezes independem da vontade; mas o orgulho ferido, a ambição frustrada, a ansiedade da avareza, a inveja, o ciúme, todas as paixões, numa palavra, são torturas da alma.

“A inveja e o ciúme! Felizes os que desconhecem estes dois vermes roedores! Para aquele que a inveja e o ciúme atacam, não há calma, nem repouso possíveis. À sua frente, como fantasmas que lhe não dão tréguas e o perseguem até durante o sono, se levantam os objetos de sua cobiça, do seu ódio, do seu despeito. O invejoso e o ciumento vivem ardendo em contínua febre. Será essa uma situação desejável? Não compreendeis que, com as suas paixões, o homem cria para si mesmo suplícios voluntários, tornando-se-lhe a Terra verdadeiro inferno?”

Muitas expressões pintam energicamente o efeito de certas paixões. Diz-se: “inchado de orgulho”, “morrer de inveja”, “secar de ciúme” ou “de despeito”, “não comer nem beber de ciúmes”, etc. Esse quadro é sumamente real. Acontece até não ter a inveja objeto determinado. Há pessoas invejosas, por natureza, de tudo o que se eleva, de tudo o que sai da craveira vulgar, embora nenhum interesse direto tenham, mas unicamente porque não podem conseguir outro tanto. Ofusca-as tudo o que lhes parece estar acima do horizonte e, se constituíssem maioria na sociedade, trabalhariam para reduzir tudo ao nível em que se acham. É a inveja aliada à mediocridade.

Freqüentemente o homem só é infeliz pela importância que liga às coisas deste mundo. Fazem-lhe a infelicidade a vaidade, a ambição e a cobiça desiludidas. Se se colocar fora do círculo acanhado da vida material, se elevar seus pensamentos para o infinito, que é seu destino, mesquinhas e pueris lhe parecerão as vicissitudes da Humanidade, como o são as tristezas da criança que se aflige pela perda de um brinquedo que fazia a sua felicidade suprema.

Aquele que só vê felicidade na satisfação do orgulho e dos apetites grosseiros é infeliz, quando não os pode satisfazer, ao passo que aquele que nada pede ao supérfluo é feliz com aquilo que outros consideram calamidades.

Referimo-nos ao homem civilizado, porquanto o selvagem, sendo mais limitadas as suas necessidades, não tem os mesmos motivos de cobiça e de angústias: diversa é a sua maneira de ver as coisas. Como civilizado, o homem raciocina sobre a sua infelicidade e a analisa. Por isso é que esta o afeta mais. Mas também lhe é facultado analisar e raciocinar sobre os meios de obter consolação. Essa consolação ele a encontra no sentimento cristão, que lhe dá a esperança de melhor futuro, e no Espiritismo, que lhe dá a certeza desse futuro.


Allan Kardec


O Livro dos Espíritos comentado pelo Espírito Miramez

Questão 933 comentada


Os sofrimentos no mundo devastam os homens, trazendo-Ihes padecimentos de todas as ordens que se possa imaginar, sofrimentos materiais e morais. De certa forma, não se pode deter esses sofrimentos, por serem processos de despertamento espiritual, no entanto, compreender que são eles da nossa culpa é bem melhor para que possamos nos esforçar para nos livrarmos deles.

Estamos falando de dois apenas, que são o ciúme e a inveja. São realmente dois vermes roedores da alma, senão do próprio corpo físico. Como combater essas duas enfermidades, livrar-se delas? Qual o ser humano, e mesmo o espiritual, que não sentiu ou sente ciúme ou inveja? Todos, embora haja os que já se livraram deles.

Os que ainda não sentiram essas duas doenças, talvez se encontrem na fila para sentir suas torturas. Elas, por seu caráter inferior, trazem lições dolorosas para a alma na sua seqüência de vida. Como encarnados, e por vezes fora da carne, todos sentirão esse estado negativo do Espírito, por não terem ainda conhecido a verdade. Somente os Espíritos livres das paixões humanas são limpos dos resíduos de todas as inferioridades.

Certamente que devemos combater todos os tipos de inferioridade nos caminhos que percorremos, para que no amanhã, possamos dizer: "conheci a verdade e ela me tornou livre das peias da ignorância."

"O Livro dos Espíritos" nos fala que, por vezes, os sofrimentos materiais independem da vontade do homem, e isso é certo, no entanto, os sofrimentos morais se encontram na mesma ordem, por nos faltar elevação espiritual para os evitarmos. Como pode o homem primitivo ter uma moral ilibada, se desconhece seus fundamentos?

Os sofrimentos materiais e morais somente desaparecerão quando o Espírito ascender pelo despertamento dos seus dons espirituais. O tempo se encarrega desse trabalho. Todas as almas que não têm experiências qualificadas na consciência pura, desconhecem a paz e a tranqüilidade. Não questionemos a Deus, nem tampouco O responsabilizemos, pelos desastres que essas duas forças provocam em nós. O esquema está traçado para o nosso destino, e como Deus é onisciente, Ele já sabe disso; e se deixou que assim acontecesse, é que precisa ser deste modo. Nem nós mesmos temos culpas dos nossos deslizes. Temos culpas, se não combatermos nossas inferioridades, já conscientes dos caminhos onde as paixões nos levam.

Todos os vermes roedores são forças negativas que devemos combater, sempre na ordem das coisas, porque é no combate que ganhamos experiência para a verdadeira conquista. Se as almas não fossem torturadas pelos contrastes da vida, como elas conheceriam o outro lado, o da serenidade, da caridade e do amor? Certamente que são felizes aqueles que desconhecem esses vermes roedores; bem-aventurados são eles, por terem passado por todas essas experiências e delas colheram a paz verdadeira que torne a consciência tranqüila, objetivo de nossas vidas.

Compreendamos, pois, a necessidade dos nossos esforços visando à melhora da vida material e moral, pois o conseguiremos, por estar no destino de todos. Surge deste esforço a água da vida, quem a bebe nunca mais terá sede.

Replicou-lhe Jesus:

Se conhecerás o dom de Deus e quem é o que te pede: Dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva. (João, 4:10)

Jesus sempre nos pede que doemos água, em qualquer posição em que estejamos, aos que sofrem, pois Ele está com eles e, se compreendemos, Ele, o Mestre, nos dá a água com a qual nunca mais teremos sede, por ser a água da vida eterna. É necessário que entendamos esse pedido. As imperfeições são fantasmas dentro de nós e à nossa frente, e a consciência em Cristo nos pede para expulsá-las, ambientando-nos com o amor e a caridade, para que a salvação instale na nossa intimidade o sol da verdade e a luz de Deus no coração.

Limpando-te do ciúme e da inveja, ficarás livre de muitos fantasmas que corroem a alma, como carunchos invisíveis, os quais não devemos matar, nem nos servirmos deles para a nossa revolta e, sim, transformá-los em vida, em experiências e cultivo da própria paz.


Miramez



Filosofia Espírita – Volume XIX. João Nunes Maia
Cap. 15 - Dois Vermes Destruidores




Fonte: O Livro dos Espíritos comentado pelo Espírito MiramezFilosofia Espírita – Volume XIX-pdfIpeak - Instituto de Pesquisas Espíritas Allan Kardec

Nenhum comentário:

Postar um comentário