Joanna de Ângelis - Psicografia de Divaldo P. Franco
Autoconsciência
À medida que o ser amadurece psicologicamente, podendo discernir o que deve e pode fazer em relação ao que pode mas não deve ou deve, porém, não pode realizar, surge a autoconsciência que o predispõe ao crescimento interior livre de conflitos e tribulações.
Normalmente, nos períodos primordiais do desenvolvimento moral e espiritual, predominam em sua faculdade de agir os conceitos que lhe chegam do exterior, as opiniões conflitivas que o cercam, as diretrizes que são estabelecidas por outras pessoas que se acreditam possuidoras de valores que podem orientar vidas. Não raro, porém, esses comportamentos contraditórios que se chocam uns contra os outros, mais confundem as pessoas do que as direcionam para os fins enobrecidos da existência, por estarem quase sempre assinalados pelas paixões pessoais, nas quais predomina o ego em detrimento dos sentimentos solidários.
O principiante, manipulado por uns e outros, em tais circunstâncias perde-se no báratro estabelecido e sem experiência ruma em direções confusas, descobrindo-se enganado, desconsiderado nos ideais que busca, logo tombando, não poucas vezes, na descrença e no desencanto.
Quando, porém, aprende a ouvir e a reflexionar, examinando as informações ministradas e cotejando-as com o conhecimento exarado na experiência do século, realizando suas próprias investigações, torna-se capaz de avaliar os exageros que defluem dos entusiasmos inoportunos, as precauções descabidas que são comuns aos temperamentos tímidos ou cépticos, passando a construir os alicerces para as suas crenças na lógica, na vivência pessoal, e a todos respeitando, mas não os levando em consideração naquilo que diz respeito às suas opiniões e caprichos informativos.
Esse processo demanda tempo e experiência, mediante os quais são avaliadas as propostas do conhecimento e as necessidades do sentimento.
Estagiando cada indivíduo em nível de consciência diferente, que corresponde às conquistas pessoais da emoção e do desenvolvimento intelectual, o mesmo acontecimento é visto de maneira mui pessoal, conforme o grau de percepção e análise individual.
Eis porque as experiências podem ser apresentadas a todos de maneira uniforme, mas cada um é convidado a vivenciá-las de forma própria e de acordo com os recursos que lhe estão disponíveis.
Nunca se apresentam duas experiências iguais para tipos diferentes. O acontecimento pode ter características semelhantes, mas sucederá de maneira bem especial de cada um, face à diversidade de enfrentamento que surge no momento de executá-lo.
A autoconsciência desvela recursos inesgotáveis que permanecem adormecidos, aguardando o momento hábil para manifestar-se. É semelhante ao agradável calor que faz desabrochar a vida, amadurecer os frutos
Aprende a observar para agir com segurança.
Não te permitas influenciar por opiniões apressadas e sem estrutura lógica mesmo que aureoladas por atraentes configurações.
Águas paradas não refletem apenas paz, mas ocultam estagnação e morte.
A experiência é estrada atraente e desafiadora, que cada pessoa deve percorrer com os próprios pés.
Os atavismos, que remanescem na conduta e na reflexão mental, tendem a conduzir o indivíduo às repetições de comportamentos já vivenciados, sem permitirem o despertar de maior interesse pelas novas expressões da realidade.
Os hábitos da meditação em torno dos pensamentos vitalizados deve constituir um processo de amadurecimento das ideias, a fim de que passem a ter significado útil propiciador de crescimento íntimo.
Passo a passo, a mente se dilata e a compreensão dos objetivos existenciais se faz mais clara, ensejando mais harmonia interna e encantamento exterior em relação aos quadros de incomparável beleza que emolduram as paisagens.
Nesse crescimento íntimo, os fatores que geram medo, amargura, insegurança, ansiedade, são diluídos pela autoconsciência que se firma nos painéis delicados do Espírito, tornando-se mecanismo de segurança e de harmonia.
Herdeiro das realizações do passado, o ser desperta sob os camartelos dos atos perturbadores, mas também sob a inspiração das ideias enobrecidas que passearam pela sua mente e, de alguma forma, constituíram motivo de iluminação e de razão.
Havendo predominância das heranças nefastas, ressumam como conflitos e tormentos, que podem ser decodificados pela claridade dos ensinamentos morais do Evangelho de Jesus, que convida a mudanças de comportamento através de bem sucedida sintonia com os ideais de beleza, de fraternidade, de caridade.
Descobre que o seu é o destino estelar e que marcha inexoravelmente no rumo da Grande Ventura, sendo os impedimentos momentâneos desafios que lhe cumpre vencer.
Sem abandonar os valiosos contributos que lhe vêm do mundo externo, vivencia as nobres expressões do pensamento, superando obstáculos e superando-se no que diz respeito às tendências para a sombra, o vulgar, o já realizado...
A autoconsciência desabrocha e a vida adquire sentido profundo e encantador.
O mal dos maus já não faz qualquer mal.
As perseguições da inveja e da inferioridade não mais atingem os sentimentos enobrecidos.
A calúnia não encontra ressonância nos painéis da emoção.
A maledicência não cria embaraços impeditivos.
E o ser avança autoconsciente do que deve fazer, porque realizá-lo e para que esforçar-se para a preservação da sua paz pessoal e, por extensão, pela de todos.
Um homem desejou construir um lar para viver tranquilamente com a família.
Mandou um engenheiro e um arquiteto planejarem a casa e os detalhes que lhe pareciam mais convenientes para uma residência cômoda e prazenteira.
Quando começou a construção, recebeu a visita de um amigo, que apresentou várias sugestões mudando o plano inicial.
Entusiasmado com as opiniões, pediu aos técnicos que corrigissem os alicerces, redesenhassem algumas linhas e, com despesas a mais, conseguiu alterar o primeiro projeto.
Posteriormente, outro amigo, e mais tarde outro mais, trouxeram opiniões descabidas que redundaram em alterações absurdas e gastos exagerados.
Ao terminar a construção, a mesma se tornou inabitável, estranha.
Calmamente, ele convocou os mesmos engenheiro e arquiteto e disse como desejava a sua futura casa.
Iniciada a obra, veio alguém apresentar-lhe sugestão, ao que ele contestou:
- Esta casa é para mim e irei fazê-la conforme acredito ser comodidade após ouvir os especialistas em construção. Não alterarei nada, a fim de atender às descabidas opiniões dos amigos, porque a casa dos amigos é aquele monstrengo que abandonei. Está será a minha casa conforme penso e desejo...
A autoconsciência tem dimensão do que é melhor para quem o deseja.
Joanna de Ângelis
Psicografia de Divaldo Pereira Franco, no dia 14 de maio de 2001, em Düsseldorf, Alemanha.
Publicada no Jornal Mundo Espírita de agosto de 2001.
Fonte: Divaldo Franco
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