segunda-feira, 21 de março de 2022

Emmanuel - Livro Mais Perto - Chico Xavier - Cap. 12 - Alcancemos a luz





Emmanuel - Livro Mais Perto - Chico Xavier - Cap. 12


Alcancemos a luz


A fé transporta montanhas — afirmou o Divino Mestre. 

Em nossa condição de emparedados no vale sombrio das próprias dívidas, à frente da Lei, não nos detenhamos na feição exterior do ensinamento e, sim, apliquemos a beleza do símbolo, ao nosso próprio mundo interno.

Antigos prisioneiros do cárcere de reiteradas defecções espirituais, sentimo-nos cercados por pesadas colunas de treva a enceguecer-nos a visão.

Montanhas empedradas de revolta e indisciplina, inclinam-nos para os despenhadeiros do sofrimento.

Montanhas espinhosas de negligência e ociosidade, ameaçam-nos com os precipícios da negação e da dúvida.

Montanhas de leviandade e insensatez, induzem-nos a cair nos desvãos do tempo perdido.

Montanhas de débitos e aflições que formamos com os resíduos dos próprios erros, no curso dos milênios incessantes, desviam-nos o espírito para a inutilidade e para a morte.

Que a nossa fé seja hoje o instrumento de renovação dos nossos próprios caminhos.

Utilizando-a na obra paciente do amor, construiremos nova senda, a soerguer-nos para os cimos da vida.

Para conhecer com segurança é preciso discernir; para discernir é indispensável aprender; para aprender é necessário amar com todas as nossas forças.

Abençoadas revelações nos esperam nos montes do futuro, todavia, para alcançar o esplendor do porvir, é imprescindível desintegrar a neve da indiferença e diluir a sombra espessa da incompreensão que nos prendem à furna do egoísmo cristalizado.

Não basta nos demoremos em análises esterilizantes do escuro ambiente de purgação do pretérito em que nos encontramos, embora reconheçamos o diálogo construtivo por valioso ingrediente na edificação da verdade.

A hora que passa é preciosa demais para que lhe percamos a grandeza.

Saibamos abraçar a fé viva que o Cristo nos legou com a renunciação aos caprichos inferiores e, transformando-nos em sinceros trabalhadores, no aperfeiçoamento de nós mesmos pelo trabalho infatigável do bem, aniquilaremos as montanhas agressivas que nos separam do Mestre Divino e d’Ele receberemos o salário da luz com que assimilaremos os dons das mais altas revelações nos domínios da Vida Eterna.


Emmanuel









Fonte: Bíblia do Caminho † Testamento Xavieriano

Chico Xavier - Livro O Evangelho de Chico Xavier - Carlos A. Baccelli - Cap. 263 - Tudo passa




Chico Xavier - Livro O Evangelho de Chico Xavier - Carlos A. Baccelli - Cap. 263


Tudo passa


Sobre a Terra, tudo é ilusão, tudo passa, tudo se transforma de um instante para outro.

O que conta é o que guardamos dentro de nós; tudo mais há de ficar com o corpo, que se desfará em pó… 

Não vale a pena tanta luta por nada! Precisamos crescer interiormente, adquirir valores que sejam eternos… 

Uma simples célula cancerígena que nos apareça no corpo joga tudo no chão… 

Vamos partir para o Além com os tesouros da alma. 

Como é que haveremos de nos apresentar aos que nos endossaram a reencarnação, de mãos vazias?!… 

Precisamos ser alegres, ter confiança em Deus, amar os nossos semelhantes. 

No momento da morte, nada nos valerá tanto quanto a consciência tranquila!


Chico Xavier











André Luiz - Livro Mentores e Seareiros - Espíritos Diversos / Chico Xavier - Cap. 2 - Dez apontamentos de paz




André Luiz - Livro Mentores e Seareiros - Espíritos Diversos / Chico Xavier - Cap. 2


Dez apontamentos de paz


1.° — Aprenda a desculpar infinitamente para que os seus erros, à frente dos outros, sejam esquecidos e perdoados.

2.° — Cale-se, diante do escárnio e da ofensa, sustentando o silêncio edificante, capaz de ambientar-lhe a palavra fraterna em momento oportuno.

3.° — Não cultive desafetos, recordando que a aversão por determinada criatura é, quase sempre, o resultado da aversão que lhe impuseste.

4.° — Não permita que o egoísmo e a vaidade, o orgulho e a discórdia se enraízem no seu coração, lembrando que toda a ideia de superestimação dos próprios valores é adubo nos espinheiros da irritação e do ódio.

5.° — Perante o companheiro que se rendeu às tentações de natureza inferior, deixe que a compaixão lhe ilumine os pontos de vista, pensando que, em outras circunstâncias, poderia você ocupar-lhe a indesejável situação e o lugar triste.

6.° — Não erga a sua voz demasiado e nem tempere a sua frase com fel para que a sua palavra não envenene as chagas do próximo.

7.° — Levante-se, cada dia, com a disposição de servir sem a preocupação de ser servido, de auxiliar sem retribuição e cooperar sem recompensa, para que a solidariedade espontânea te favoreça com os créditos e recursos da simpatia.

8.° — Esqueça a calúnia e a maledicência, a perversidade e as aflições que lhe dilaceram a alma entendendo nas dores e obstáculos do mundo as suas melhores oportunidades de redenção.

9.° — Lembre-se de que os seus credores estão registrando a linguagem de seus exemplos e perdoar-lhe-ão as faltas e os débitos, à medida que você se fizer o benfeitor desinteressado de muitos.

10.° — Não julgue que o serviço da paz seja mero problema da boca mas, sim, testemunho de amor e renúncia, regeneração e humildade da própria vida, porque, somente ao preço de nosso próprio suor, na obra do bem, é que conseguiremos reconciliar-nos, mais depressa, com os nossos adversários, segundo a lição do Senhor.


André Luiz









Fonte: Bíblia do Caminho † Testamento Xavieriano

Joanna de Ângelis - Livro Florações Evangélicas - Divaldo P. Franco - Cap. 36 - Perdoar




Joanna de Ângelis - Livro Florações Evangélicas - Divaldo P. Franco - Cap. 36


Perdoar


"Não vos digo que perdoeis até sete vezes, mas até setenta vezes sete vezes". Mateus: 18-22.

"A misericórdia é o complemento da brandura, porquanto aquele que não for misericordioso não poderá ser brando e pacifico. Ela consiste no esquecimento e no perdão das ofensas". O Evangelho Segundo O Espiritismo, Cap. X - Item 4.


Sim, deves perdoar! Perdoar e esquecer a ofensa que te colheu de surpresa, quase dilacerando a tua paz. Afinal, o teu opositor não desejou ferir-te realmente, e, se o fez com essa intenção, perdoa ainda, perdoa-o com maior dose de compaixão e amor. Ele deve estar enfermo, credor, portanto, da misericórdia do perdão.

Ante a tua aflição, talvez ele sorria. A insanidade se apresenta em face múltipla e uma delas é a impiedade, outra o sarcasmo, podendo revestir-se de aspectos muito diversos.

Se ele agiu, cruciado pela ira, assacando as armas da calúnia e da agressão, foi vitimado por cilada infeliz da qual poderá sair desequilibrado ou comprometido organicamente. 

Possivelmente, não irá perceber esse problema, senão mais tarde.

Quando te ofendeu deliberadamente, conduzindo o teu nome e o teu caráter ao descrédito, em verdade se desacreditou ele mesmo. Continuas o que és e não o que ele disse a teu respeito.

Conquanto justifique manter a animosidade contra tua pessoa, evitando a reaproximação, alimenta miasmas que lhe fazem mal e se abebera da alienação com indisfarçável presunção.

Perdoa, portanto, seja o que for e a quem for.

O perdão beneficia aquele que perdoa, por propiciar-lhe paz espiritual, equilíbrio emocional e lucidez mental.

Felizes são os que possuem a fortuna do perdão para a distender largamente, sem parcimônia.

O perdoado é alguém em débito; o que perdoou é espírito em lucro.

Se revidas o mal és igual ao ofensor; se perdoas, estás em melhor condição; mas se perdoas e amas aquele que te maltratou, avanças em marcha invejável pela rota do bem.

Todo agressor sofre em si mesmo. É um espírito envenenado, espargindo o tóxico que o vitima. Não desças a ele senão para o ajudar.

Há tanto tempo não experimentavas aflição ou problema - graças à fé clara e nobre que esflora em tua alma - que te desacostumaste ao convívio do sofrimento. Por isso, estás considerando em demasia o petardo com que te atingiram, valorizando a ferida que podes de imediato cicatrizar.

Pelo que se passa contigo, medita e compreenderás o que ocorre com ele, o teu ofensor.

O que te é Inusitado, nele é habitual.

Se não te permitires a ira ou a rebeldia - perdoarás!

A mão que, em afagando a tua, crava nela espinhos e urze que carrega, está ferida ou se ferirá simultaneamente. Não lhe retribuas a atitude, usando estiletes de violência para não aprofundares as lacerações.

O regato singelo, que tem o curso impedido por calhaus e os não pode afastar, contorna-os ou para, a fim de ultrapassá-los e seguir adiante.

A natureza violentada pela tormenta responde ao ultraje reverdescendo tudo e logo multiplicando flores e grãos.

E o pântano infeliz, na sua desolação, quando se adorna de luar, parece receber o perdão da paisagem e a benéfica esperança da oportunidade de ser drenado brevemente, transformando-se em jardim.

Que é o "Consolador", que hoje nos conforta e esclarece, conduzindo uma plêiade de Embaixadores dos Céus para a Terra, em missão de misericórdia e amor, senão o perdão de Deus aos nossos erros, por intercessão de Jesus? 

Perdoa, sim, e intercede ao Senhor por aquele que te ofende, olvidando todo o mal que ele supõe ter-te feito ou que supões que ele te fez, e, se o conseguires, ama-o, assim mesmo como ele é.


Joanna de Ângelis










sexta-feira, 18 de março de 2022

Emmanuel - Livro Pensamento e Vida - Chico Xavier - Cap. 29 - Morte




Emmanuel - Livro Pensamento e Vida - Chico Xavier - Cap. 29


Morte


Sendo a mente o espelho da vida, entenderemos sem dificuldade que, na morte, lhe prevalecem na face as imagens mais profundamente insculpidas por nosso desejo, à custa da reflexão reiterada, de modo intenso.

Guardando o pensamento — plasma fluídico — a precisa faculdade de substancializar suas próprias criações, imprimindo-lhes vitalidade e movimento temporários, a maioria das criaturas terrestres, na transição do sepulcro, é naturalmente obcecada pelos quadros da própria imaginação, aprisionada a fenômenos alucinatórios, qual acontece no sono comum, dentro do qual, na maioria das circunstâncias, a individualidade reencarnada, em vez de retirar-se do aparelho físico, descansa em conexão com ele mesmo, sofrendo os reflexos das sensações primárias a que ainda se ajusta.

Todos os círculos da existência, para se adaptarem aos processos da educação, necessitam do hábito, porque todas as conquistas do Espírito se efetuam na base de lições recapituladas.

As classes são vastos setores de trabalho específico, plasmando, por intermédio de longa repercussão, os objetivos que lhes são peculiares naqueles que as compõem.

É assim que o jovem destinado a essa ou àquela carreira é submetido, nos bancos escolares, a determinadas disciplinas, incluindo a experiência anterior dos orientadores que lhe precederam os passos na senda profissional escolhida.

O futuro militar aprenderá, desde cedo, a manejar os instrumentos de guerra, cultuando as instruções dos grandes chefes de estratégia, e o médico porvindouro deverá repetir, por anos sucessivos, os ensinos e experimentos dos especialistas, antes do juramento hipocrático.

Em todas as escolas de formação, vemos professores ajustando a infância, a mocidade e a madureza aos princípios consagrados, nesse ou naquele ramo de estudo, fixando-lhes personalidade particular para determinados fins, sobre o alicerce da reflexão mental sistemática, em forma de lições persistentes e progressivas.

Um diploma universitário é, no fundo, o pergaminho confirmativo do tempo de recapitulações indispensáveis ao domínio do aprendiz em certo campo de conhecimento para efeito de serviço nas linhas da coletividade.

Segundo o mesmo princípio, a morte nos confere a certidão das experiências repetidas a que nos adaptamos, de vez que cada Espírito, mais ou menos, se transforma naquilo que imagina. 

É deste modo que ela, a morte, extrai a soma de nosso conteúdo mental, compelindo-nos a viver, transitoriamente, dentro dele. Se esse conteúdo é o bem, teremos a nossa parcela de Céu, correspondente ao melhor da construção que efetuamos em nós, e se esse conteúdo é o mal estaremos necessariamente detidos na parcela de inferno que corresponda aos males de nossa autoria, até que se extinga o inferno de purgação merecida, criado por nós mesmos na intimidade da consciência.

Tudo o que foge à lei do amor e do progresso, sem a renovação e a sublimação por bases, gera o enquistamento mental, que nada mais é que a produção de nossos reflexos pessoais acumulados e sem valor na circulação do bem comum, consubstanciando as ideias fixas em que passamos a respirar depois do túmulo, à feição de loucos autênticos, por nos situarmos distantes da realidade fundamental.

É por esta razão que morrer significa penetrar mais profundamente no mundo de nós mesmos, consumindo longo tempo em despir a túnica de nossos reflexos menos felizes, metamorfoseados em região alucinatória decorrente do nosso monoideísmo na sombra, ou transferindo-nos simplesmente de Plano, melhorando o clima de nossos reflexos ajustados ao bem, avançando em degraus consequentes para novos horizontes de ascensão e de luz.


Emmanuel










Albino Teixeira - Livro Paz e Renovação - Espíritos Diversos / Chico Xavier - Cap. 26 - Promoção




Albino Teixeira - Livro Paz e Renovação - Espíritos Diversos / Chico Xavier - Cap. 26


Promoção


Quando o fracasso nos desafia de perto…

Quando a tentação e a enfermidade nos visitam…

Quando a nossa esperança se dissolve no sofrimento…

Quando a provação se nos afigura invencível…

Quando somos apontados pelo dedo da injúria…

Quando os próprios amigos nos abandonam…

Quando todas as circunstâncias nos contrariam…

Quando a mágoa aparece…

Quando a incompreensão nos procura, ameaçadora…

Quando somos intimados a esquecer-nos, em benefício de outros…

Então, é chegado para nós o teste de aproveitamento espiritual, na escola da vida, para efeito de promoção.


Albino Teixeira










Bezerra de Menezes - Livro Bezerra, Chico e Você - Chico Xavier - Cap. 43 - Fé e caridade




Bezerra de Menezes - Livro Bezerra, Chico e Você - Chico Xavier - Cap. 43


Fé e caridade


As páginas examinadas em “O Evangelho Segundo o Espiritismo” nos falam de bênção e tradução da bênção, de confiança em Deus a expressar-se em serviço de amor aos semelhantes, e isso nos pede atenção para as conquistas que demandamos no campo da nossa própria renovação.

Somos hoje um grande livro de doutrinas excelsas — cada qual de nós um capítulo estruturado em caracteres brilhantes, todavia, a Terra espera por nós no campo da verdade aplicada e, tão somente nessa aplicação do bem que conhecemos é que, em verdade, descobriremos o bem que desconhecemos e, no qual, se nos levantará a felicidade eterna.

Nestas palavras, pretendemos elucidar o que seja o nosso antigo binômio: “fé e caridade”. Uma, efetivamente, não se realiza sem a outra.

Unicamente a fé mobilizada em trabalho pode atingir as realizações puras do Amor, para que o Amor nos presida os destinos.

Comecemos semelhante ação a partir dos nossos mais íntimos redutos de vivência humana.

Para sermos mais explícitos, iniciemos o nosso apostolado nas criaturas-problemas que a vida nos confiou.

É no recanto doméstico, seja no setor do trabalho ou do ideal, do afeto ou da família que identificamos a nossa primeira escola.

Suportemos valorosamente as provas que a vida nos imponha, junto daqueles que nos amam ou que devemos amar ou daqueles que se reúnem conosco sem amar-nos ainda ou aos quais ainda não conseguimos amar, de todo, apesar de estarmos juntos.

Vençamo-nos, doando de nós tudo o que sejamos em boa vontade e abnegação, auxiliando-nos uns aos outros e teremos conosco a fórmula de ação pela qual atingiremos as realizações de que carecemos em favor de nós mesmos.


Bezerra








De mensagem recebida em 14.08.1971.
Fonte: Bíblia do Caminho † Testamento Xavieriano

Emmanuel - Livro Chico Xavier Pede Licença - Espíritos Diversos - Chico Xavier / J. Herculano Pires - Cap. 14 - Atualidade e nós




Emmanuel - Livro Chico Xavier Pede Licença - Espíritos Diversos - Chico Xavier / J. Herculano Pires - Cap. 14


Atualidade e nós 


Contemplarás o mundo, sob o impacto do progresso, observando que no bojo da tempestade surge a presença do trabalho renovador.

Enquanto a ventania da transformação sopra furiosamente sobre a nave terrestre, alterando-lhe os rumos, guardarás lealdade à fé no Supremo Poder que lhe assinala os destinos.

Muitos viajores — nossos irmãos —, amedrontados diante da tormenta, perguntam por Deus, ao passo que outros se rendem à descrença, tentando aniquilar o tempo na embriaguez dos sentidos, como se o tempo pudesse acabar. Outros se recolhem à tristeza e ao desânimo, desistindo da luta construtiva a que foram chamados. E outros muitos ainda derivam para a fuga, acelerando os próprios passos, na direção da morte, qual se a morte não fosse a própria vida em si.

A nenhum deles reprovarás.

Cada um de nós vive nas dimensões do entendimento em que se nos caracteriza o modo de ser. E, na altura da visão espiritual a que a luz da verdade já te guindou, podes ser a compreensão de todos e o apoio fraternal para cada um.

Reconhecerás que a Universidade habilita o raciocínio para as glórias do cérebro, mas tão somente a escola da vida prepara o sentimento para as conquistas do coração.

Por isso mesmo, honorificarás a Ciência, sem menosprezo à consciência; estimarás a liberdade sem descurar da disciplina; entesourarás conhecimento, cultivando bondade; e situar-te-ás nas frentes da cultura, socorrendo, porém, quanto possível, as retaguardas do sofrimento.

Serás, enfim, o companheiro fiel do Cristo, a quem aceitamos por Mestre. E, na certeza de que Ele, o Senhor, está conosco hoje tanto quanto esteve ontem e tanto quanto está agora e estará para sempre, marcharemos juntos, a ouvir-Lhe, em qualquer circunstância, o apelo inesquecível: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”.


Emmanuel










segunda-feira, 14 de março de 2022

Hammed - Livro Um Modo de Entender Uma Nova Forma de Viver - Francisco do Espírito Santo Neto - Cap. 31 - As duas faces da culpa




Hammed - Livro Um Modo de Entender Uma Nova Forma de Viver - Francisco do Espírito Santo Neto - Cap. 31


As duas faces da culpa


“E, imediatamente, pela segunda vez, o galo cantou. E Pedro se lembrou da palavra que Jesus lhe havia dito: Antes que o galo cante duas vezes, me negarás três vezes. E começou a chorar” (Marcos, 14:72.)


A culpa nos paralisa no tempo e ficamos soterrados sob os escombros de nossos desacertos. Ela interrompe nossas oportunidades de crescimento no presente em virtude de nossa obstinação neurótica em comportamentos do passado.

A culpa se estrutura nas crenças antigas do “pecado” irreparável e nos alicerces do perfeccionismo.

Só quando aceitarmos que a vida perfeita é uma impossibilidade humana, quando aprendermos que há limites em nosso grau evolutivo, quando nos conscientizarmos de que não temos todas as respostas para o que acontece, quando aceitarmos que somos passíveis de falhas ou enganos, quando abandonarmos o complexo de onipotência, é que a culpa terá acesso restrito em nosso mundo íntimo.

O arrependimento se distingue da culpa. O arrependimento se manifesta quando tomamos ciência de que sabíamos fazer algo melhor e não o fizemos, enquanto que a culpa é prepotência daquele que crê que “deveria ter agido melhor”, que “deveria ter previsto anteriormente os problemas atuais”, porém não o fez propositadamente, porque seu senso crítico era inexpressivo, não possuía consciência individual e coletiva, nem autorreflexão; em outras palavras, sua consistência evolutiva era limitada.

A raiz da culpa é o nosso imenso orgulho e as expectativas absurdas “de como nós e os outros deveriam ser, de como deveríamos nos comportar diante dos fatos e acontecimentos”.

Há culpas e culpas…

Simão Pedro, filho de Jonas, conhecido como Pedro (do latim petra, a e — rocha, rochedo, penhasco, pedra), na realidade não tinha muito de rocha ou pedra; era um homem comum, com muitas das fragilidades humanas.

Na última ceia, Pedro contestou a predição do Mestre, que dizia: “Antes que o galo cante duas vezes, me negarás três vezes”.

O apóstolo deu a entender que os outros poderiam traí-lo, mas ele (a rocha), sob nenhuma condição, negaria o amor e a amizade que tinha pelo Mestre.

Depois, Pedro teve percepção de sua imaturidade e se arrependeu profundamente. Aceitou a condição de criatura em fase de crescimento espiritual, que ainda não tinha chegado à plenitude do ser.

Quem se arrepende abandona a culpa, pois não mais aprova os velhos comportamentos e atos imaturos. Todavia não se auto castiga pelo fato de não ser perfeito, nem causa a própria ruína física ou emocional, abandonando-se num mar de lamentação e pesar. Ao contrário: assume a responsabilidade de seus erros e evita repeti-los; ao mesmo tempo, abranda seu julgamento e perdoa a si mesmo.

Simão Pedro superou a culpa, transformou-se interiormente e vivenciou uma existência de amor, compaixão, serenidade e perdão. Ele despertou em si o Reino de Deus e passou a divulgar a Boa Nova de Jesus sem distinção de raça, nacionalidade ou condição sexual das pessoas de sua época.

Pedro suplantou a culpa.

A análise da culpa no comportamento de Simão Pedro diverge completamente da reflexão sobre Judas Iscariotes.

Quando Jesus estava sendo julgado pela suprema corte judia, o Grande Sinédrio, Judas estava do lado de fora, remoendo-se de culpa.

Judas sucumbiu diante do seu engano. “Então Judas, que o entregara, vendo que Jesus fora condenado, sentiu remorsos e veio devolver aos chefes dos sacerdotes e aos anciãos as trinta moedas de prata, dizendo: Pequei entregando um sangue inocente. Mas estes responderam: Que temos nós com isso? O problema é teu. Ele, atirando as moedas no Templo, retirou-se e foi enforcar-se”1.

Ele se autodestruiu ao deparar com o tormento da traição ao Mestre. De forma ingênua, Judas acreditou nas promessas dissimuladas do poder mundano e falseou fatalmente.

Não soube se perdoar nem reparar seu erro. Poderia ter-se compensado e, igualmente, à coletividade pela perda do Mestre, procurando redimir-se do seu grande equívoco através da ação de fazer chegar a um grande número de pessoas a mensagem cristã.

Poderia também ter iniciado, quase que imediatamente, o trabalho de autotransformação, mas a culpa o paralisou por anos; só muito tempo depois, conseguiu reabilitar-se através das sucessivas encarnações.

A culpabilidade de Pedro resultou em arrependimento e lhe serviu de degrau para expandir seus horizontes existenciais. A culpabilidade de Judas derramou-se em remorso doentio, acabando em auto condenação.

Os chamados “pecadores” — os que tinham consciência de culpa descritos nas passagens do Novo Testamento – estavam apenas vivendo experiências evolutivas. O que chamamos de “imperfeição” no mundo são apenas as lições não aprendidas, que precisam ser recapituladas para que possamos melhorar nossas ações.

Tudo aquilo que nos parece negativo é apenas um “caminho preparatório” para alcançarmos um bem maior e definitivo.

Mesmo os comportamentos que acreditamos nos levar aos caminhos do mal não devem ser vistos como perdição eterna, mas somente equivocadas opções do nosso livre-arbítrio, que não deixam de ser experiências compensatórias e de aprimoramento a longo prazo.

Cada culpa, cada pessoa. Cada pessoa, cada culpa.

Use os erros e desacertos para seu crescimento interior. Aprenda com suas culpas e eleve-se para a Vida Maior.

Em se tratando de culpa, cada qual deve fazer uma autoanálise, visto que a falta é sempre proporcional a cada consciência.


Hammed









Emmanuel - Livro Pão Nosso - Chico Xavier - Cap. 33 - Trabalhemos também




Emmanuel - Livro Pão Nosso - Chico Xavier - Cap. 33


Trabalhemos também


“E dizendo: — Varões, por que fazeis essas coisas? Nós também somos homens como vós, sujeitos às mesmas paixões.” — (ATOS, 14.15)


O grito de Paulo e Barnabé ainda repercute entre os aprendizes fiéis.

A família cristã muita vez há desejado perpetuar a ilusão dos habitantes de Listra.

Os missionários da Revelação não possuem privilégios ante o espírito de testemunho pessoal no serviço. 

As realizações que poderíamos apontar por graça ou prerrogativa especial, nada mais exprimem senão o profundo esforço deles mesmos, no sentido de aprender e aplicar com Jesus.

O Cristo não fundou com a sua doutrina um sistema de deuses e devotos, separados entre si; criou vigoroso organismo de transformação espiritual para o bem supremo, destinado a todos os corações sedentos de luz, amor e verdade.

No Evangelho, vemos Madalena arrastando dolorosos enganos, Paulo perseguindo ideais salvadores, Pedro negando o Divino Amigo, Marcos em luta com as próprias hesitações; entretanto, ainda aí, contemplamos a filha de Magdala, renovada no caminho redentor, o grande perseguidor convertido em arauto da Boa Nova, o discípulo frágil conduzido à glória espiritual e o companheiro vacilante transformado em evangelista da Humanidade inteira.

O Cristianismo é fonte bendita de restauração da alma para Deus.

O mal de muitos aprendizes procede da idolatria a que se entregam, em derredor dos valorosos expoentes da fé viva, que aceitam no sacrifício a verdadeira fórmula de elevação; imaginam-nos em tronos de fantasia e rojam-se-lhes aos pés, sentindo-se confundidos, inaptos e miseráveis, esquecendo que o Pai concede a todos os filhos as energias necessárias à vitória.

Naturalmente, todos devemos amor e respeito aos grandes vultos do caminho cristão; todavia, por isto mesmo, não podemos olvidar que Paulo e Pedro, como tantos outros, saíram das fraquezas humanas para os dons celestiais e que o Planeta Terreno é uma escola de iluminação, poder e triunfo, sempre que buscamos entender-lhe a grandiosa missão.


Emmanuel









Manoel Philomeno de Miranda - Livro Tormentos da Obsessão - Divaldo P. Franco - Cap. 11 - O insucesso de Ambrósio




Manoel Philomeno de Miranda - Livro Tormentos da Obsessão - Divaldo P. Franco - Cap. 11

O insucesso de Ambrósio


"Os bons espíritos não cessam de inspirar, de interceder, de oferecer proteção a todos quantos se lhe facultam a ajuda, utilizando-se de todos os recursos possíveis para que os seus afeiçoados consigam desobrigar-se dos compromissos assumidos, alcançando o patamar da vitória. Precatem-se, portanto, aqueles que aspiram pela felicidade e por alcançar êxito nos empreendimentos que realizam, com os recursos da oração, da paciência e do trabalho elevado, a fim de manter o pensamento em faixa superior de reflexões, evitando, desse modo, ser alcançados pelos petardos mentais e hipnoses dos seus inimigos espirituais" (...)

"A mediunidade é compromisso de alta significação que ainda não encontrou a necessária compreensão entre as criaturas encarnadas no mundo físico" (...)


De certo modo já familiarizado com incursões à Erraticidade inferior, aquela expedição, todavia, pelas características de que se revestia, ensejou-me interrogações, que tive oportunidade de apresentar ao gentil diretor no dia imediato.

Impressionara-me profundamente com o fácies do irmão Ambrósio, tendo em vista os sinais das sevícias que lhe haviam sido aplicadas e que se apresentavam na forma, dando-lhe um aspecto dantesco.

Os traços humanos haviam sofrido graves alterações e todo ele se apresentava esquálido, destroçado, inspirando compaixão e produzindo choque emocional em quem o fitasse.

Adormecido, ao ser transportado ressonava de maneira particular, em um repouso assinalado pelo terror, natural reminiscência dos sofrimentos e pavores que experimentara durante o largo cativeiro naquela região de furnas macabras.

Concomitantemente, exteriorizava odores pútridos que remanesciam da decomposição cadavérica, ainda impregnada no perispírito, que igualmente se exteriorizava sob deformações responsáveis pela maneira como se encontrava em espírito.

Andrajoso, quase despido, a cabeleira desgrenhada, como se houvesse crescido desordenadamente, misturava-se à barba hirsuta, de aspecto imundo, a envolver a cabeça, o rosto e parte do tórax.

Os seus gemidos eram gritos de indefinível dor, que antes provocavam nos algozes que o martirizavam chalaça e mais azedume, e agora, um grande respeito e compaixão em nós.

Naqueles dédalos de onde provinha, não luziam a misericórdia nem a esperança, e alguém menos habituado ao trabalho nas zonas espirituais inferiores suporia tratar-se do inferno mitológico das religiões, ultrapassando, porém, as figurações horrendas das imaginações terrestres...

Quando o Dr. Ignácio nos convidou a visitá-lo, agora internado em nosso Pavilhão, não sopitamos o interesse de aprender mais e, rogando-lhe licença, apresentamos-lhe algumas das inquietações que me ardiam na mente.

Com a afabilidade que lhe é natural, o distinto esculápio não se fez rogado, permitindo-nos fossem-lhe propostas as questões.

— Por que a Caravana — iniciei — era presidida pela nobre benfeitora de Portugal?

Sem qualquer enfado ou indisposição, respondeu-me:

— Desde quando desencarnara, deixando luminosas lições de caridade, que a celebrizaram na Terra, e podendo desfrutar de justas alegrias em regiões ditosas, a fim de prosseguir no seu desenvolvimento espiritual, a extraordinária Senhora optara por continuar amparando o povo que o matrimônio lhe havia concedido para ser também sua família espiritual.

Por consequência, dedicou-se a socorrer igualmente os desencarnados retidos em lúgubres paisagens de recuperação dolorosa, trabalhando para retirá-los dali, oferecendo-lhes as oportunidades sacrossantas do amor e do perdão.

Face às faculdades mediúnicas incontestáveis que lhe exornaram a existência física, especialmente a de ectoplasmia, que lhe permitira a realização de vários fenômenos grandiosos e que foram tomados por milagres pela ignorância vigente na época, poderia movimentar essas forças agora intrapsíquicas, direcionando-as em favor dos Espíritos mais infelizes, aprisionados ao remorso, à consciência culpada, que se tornaram vítimas fáceis de si mesmos e dos seus adversários inclementes quão odientos.

Fez uma breve pausa, e logo adiu:

— Com um vasto patrimônio de realizações espirituais, fez-se muito amada, e quando se propôs a esse especial ministério de socorro, muitos valorosos Espíritos se apresentaram para assessorá-la, contribuindo para a diminuição dos angustiosos sofrimentos daqueles que estagiam nas esferas desditosas e de difícil acesso.

Não que a misericórdia divina deixe de possuir recursos extraordinários de atendimento aos párias morais, que se permitiram homiziar com outros semelhantes em conúbios nefastos.

Graças, porém, à sua elevação moral, granjeada no sacrifício e na abnegação, e à especialização que se permitiu através dos tempos nesse gênero de atendimento, a sua irradiação vibratória produz um vigoroso campo de defesa, que os petardos mentais e as agressões dos verdugos desencarnados da Humanidade não conseguem cindir. "Silêncio, oração mental e amor são os equipamentos exigíveis para que se possa tomar parte na sua Caravana, ao lado de muito bem elaborada disciplina interior, feita de confiança em Deus e respeito às Suas Leis, a fim de que a perturbação e o receio não abram brechas tornando vulnerável o conjunto. "Para evitar reações desnecessárias dos habitantes e controladores desses lôbregos sítios, ela diminui a potência da energia que pode exteriorizar, irradiando apenas a claridade suficiente para iluminar a área visitada, mantendo os objetivos traçados, sem deixar-se atrair por simulações e armadilhas dos hábeis artesãos do mal e da crueldade.

Com certeza existem numerosas Caravanas equivalentes, no entanto, compromissos espirituais existentes entre ela e o nobre Eurípedes atraem-na periodicamente à nossa Comunidade hospitalar, a fim de oferecer a sua valiosa e sábia ajuda. "

— E por que a fila indiana, para conduzir-se no paul tormentoso? — inquiri, interessado.

—Por precaução — redarguiu, calmamente.

— O campo de energia por ela aberto, ao marchar à frente do grupo, cria defesas em favor daqueles que seguem na retaguarda.

Ademais, o terreno pantanoso encontra-se empesteado de vibriões mentais e de detritos psíquicos que poderiam reter os caminhantes descuidados, quais armadilhas distendidas por todos os lados para impedir a fuga dos prisioneiros espirituais. "Da mesma forma que na Terra a astúcia perversa se utiliza de engrenagens sórdidas para reter e malsinar suas vítimas, considerando-se ser o nosso o mundo causal, convém não esqueçamos que aqui a mente dispõe para o bem como para o mal, de muitos arsenais de força, de que se utiliza conforme o estágio de evolução em que se encontra." Porque o clima da conversação fosse agradável, prossegui, indagando:

— O nosso irmão Ambrósio constitui-se merecedor de um socorro especial, tendo-se em vista haver sido ele o motivo central da incursão vitoriosa?

Desenhando um suave sorriso na face, em razão da pergunta algo ingênua, o amigo educado retrucou:

— Não há privilégios nas Leis divinas, caro Miranda, conforme sabemos.

Nem pessoas ou Espíritos existem que sejam especiais...

O nosso irmão Ambrósio, que hoje se encontra conosco, partiu da Espiritualidade na direção do planeta terrestre cantando hosanas de esperanças e retorna destroçado, aprisionado no calabouço que abriu para si mesmo através da invigilância, em razão de haver falido nos propósitos que se comprometeu tornar realidade. "Há quase setenta anos mergulhou no corpo físico sob a carinhosa assistência de Benfeitores que o inspiraram e se prontificaram a ajudá-lo por mais de meio século em atividades espirituais significativas.

Enriquecido com mediunidade ostensiva, preparou-se para cooperar com a divulgação da Doutrina Espírita, devendo entregar-se ao ministério com abnegação e humildade.

Em razão dos seus esforços direcionados para o Bem não seriam regateados valores que o auxiliassem na desincumbência da tarefa. "Recuperado de graves delitos cometidos no campo do sacerdócio católico, no passado, no qual se comprometera terrivelmente, o exercício da mediunidade iluminada pela Codificação Espírita ser-lhe-ia a estrada de Damasco para o verdadeiro encontro com Jesus.

Embora a terapia valiosa de que fora objeto, não conseguiu superar inteiramente o homem velho e os vícios derivados do egoísmo e da presunção, voltando a enrodilhar-se em cipoais mais vigorosos, agora sem escusas, em razão do conhecimento que possuía sobre a vida espiritual..." Fazendo uma reflexão mais cuidadosa, concluiu: O corpo é ainda uma armadura muito pesada para o Espírito que sente o bloqueio dos compromissos e desvaira nos arrazoados da insensatez, mesmo quando advertido e orientado com segurança. "Nosso amigo e irmão Ambrósio renasceu em cálido ninho doméstico, onde o amor vicejava, a fim de dispor de forças para enfrentar e superar as agressões dos adversários desencarnados, que o vigiavam desde a infância.

Como não esquecemos, nesse período, os médiuns ostensivos experimentam grandes aflições propiciadas pelos seus inimigos de ontem que tentam perturbar-lhes a marcha, impedindo por antecipação a realização dos programas para os quais renasceram. "Por isso mesmo, o carinho dos pais, as orientações espirituais, particularmente as espíritas, constituem o valioso recurso para criar resistências morais nos futuros trabalhadores da Causa do Bem, que se poderão dedicar sem receio aos compromissos iluminativos.

Foi o que aconteceu com o nosso candidato à reabilitação.

Se foi acicatado e perseguido por diversos companheiros inamistosos que o afligiam, não lhe faltaram o devotamento dos pais, especialmente da mãezinha que também era portadora de percepção mediúnica, ajudando-o no exercício da oração e dos bons costumes, a fim de que se imunizasse contra as heranças infelizes que se lhe encontravam vivas no íntimo, mas também como tesouro de sustentação para as lutas do futuro." 

Caminhávamos lentamente pelo corredor, na direção da enfermaria em que se encontrava o recém-chegado. Segurando-me o braço, afetuosamente, e mudando de tom de voz, o nobre médico aduziu:

— A mediunidade é compromisso de alta significação que ainda não encontrou a necessária compreensão entre as criaturas encarnadas no mundo físico.

Por um atavismo perverso que teima em permanecer dominante, é quase sempre tida como favor divino para eleitos, força sobrenatural, mecanismo prodigioso e equivalentes, que tornam o medianeiro um ser especial, quando não combatido tenazmente, tornando-se-lhe uma armadilha cruel que o leva à presunção e ao despautério.

Mesmo que procure viver com simplicidade e demonstre que é somente instrumento do mundo espiritual, que a ocorrência do fenômeno independe da sua vontade, as criaturas viciadas nas superstições e interessadas nas questões imediatistas o envolvem em bajulação, em excesso de cortesias, em destaques embaraçosos que quase sempre terminam por perturbar-lhe a marcha...

As heranças do pensamento mágico, com que acompanham as manifestações mediúnicas, fazem que se transfiram para a criatura os méritos que pertencem à Vida, empurrando-a para tropeços e compromissos negativos, sem forças para resistir aos assédios de todo porte que a circunscrevem em área muito apertada e conflitiva. "Por outro lado, vigem a intolerância sistemática e a perseguição gratuita à faculdade mediúnica, por uns considerada como de natureza demoníaca, por outros como transtorno patológico ou sagacidade de malabaristas interessados em enganar ou fruir resultados monetários para o próprio bem.

Embora injustas, apoiam-se em algumas ocorrências infelizes que assinalam personalidades frágeis ou enfermiças, cuja conduta sempre oferece margem para essas inditosas afirmações, totalmente destituídas de significado ou de lógica. "O nosso Ambrósio conseguiu atravessar a infância relativamente bem, suportando o cerco da hostilidade dos inimigos da Verdade, amparado pelos genitores vigilantes.

Durante a adolescência, quando os fenômenos se fizeram mais ostensivos, foi levado a uma célula do Espiritismo cristão, recebendo apoio e orientação segura para a desincumbência dos compromissos que ficaram firmados na retaguarda.

A adolescência, com os seus tumultos orgânicos, produziu-lhe alguns distúrbios que foram superados com boa orientação, e quando chegou a idade da razão, dedicando-se ao trabalho mediúnico atraiu a atenção das pessoas desacostumadas com as autênticas manifestações espíritas, que começaram a cercá-lo de privilégios, exaltando-lhe a personalidade e impregnando-o com as infelizes influências, qual se tratasse de um semideus com missão especial na Terra. "Terminados os estudos e passando a exercer a função que elegera como recurso para uma vida honrada, graças à exteriorização do ectoplasma produzia manifestações seguras, que fascinavam os companheiros honestos e deslumbravam os incautos.

As mensagens que retratavam os seus autores com riqueza de detalhes tornaram-se motivo de interesse e de atração para os corações saudosos, que se reconfortavam, e o campo de serviço ampliou-se-lhe, fascinante e rico de oportunidades.

Logo se criou uma pequena corte de assessores ociosos e de pessoas desinteressadas do Espiritismo, mas desejosas de projeção e de oportunismo, atraindo-o, lentamente, para o abismo no qual se precipitou. " Demonstrando compaixão e entendimento na face e na voz, o dedicado amigo prosseguiu:

—Embora inspirado e bem direcionado pelos seus Mentores espirituais, começou a negligenciar as advertências, supondo-se infalível e possuidor de recursos que não lhe pertenciam, tornando-se verdadeiro infante adulado, e exibindo os distúrbios do passado que começaram a ressumar do inconsciente profundo.

Logo se fez exótico, tomando atitudes estranhas e sintonizando com Entidades vulgares que lhe exploravam a vaidade exacerbada, empurrando-o para o anedotário chulo nas palestras doutrinárias que se permitia proferir, perdendo o equilíbrio total e a compostura a pouco e pouco.

Os conflitos sexuais, que estavam sob controle, também começaram a assomar nesse comenos, e tornou-se propagandista do exercício livre das paixões da libido, em tons de modernidade, como se liberdade e licenças morais fossem a mesma coisa. "Inspirado e açulado por Entidades vulgares dos comportamentos do sexo ultrajado, vampirizadoras das energias humanas, foi empurrado para atitudes públicas e particulares reprocháveis, gerando vexame nas pessoas sinceramente vinculadas à Doutrina Espírita e embaraçando aquelas outras menos informadas face às propostas expendidas, todas estranhas aos cânones espiritistas. "Não demorou muito e começou a sentir a mudança radical que passou a operar-se em torno da faculdade mediúnica.

Os Espíritos nobres, rechaçados pela sua vacuidade e presunção, foram afastados por ele mesmo, e outros, de elevação suspeita, pseudossábios e perversos, começaram a influenciá-lo, especialmente uma legião de artistas plásticos do fim do século passado e começo deste, que mantinham as paixões que os consumiram, nele encontrando campo psíquico para o prosseguimento das alucinações a que se entregaram.

Os efeitos físicos foram cessando, e sob a tutela das insinuações perturbadoras, começou a preencher por conta própria os espaços mediúnicos com astúcia e manobras espúrias, sem entender a lição silenciosa que lhe era ministrada pelos Guias espirituais, chamando-lhe a atenção, aos retos deveres, à honestidade, ao afastamento das companhias malsãs de ambos os planos da vida. "A perda e a suspensão da mediunidade são efeitos naturais das Leis soberanas, que fazem parte do ministério a que se entregam todos aqueles que pretendem servir ao Bem, em razão da não propriedade desses recursos, mas apenas da possibilidade de sua utilização para fins edificantes e libertadores.

São uma verdadeira providência superior para advertir os incautos e trazê-los de volta ao caminho do dever, o que nem sempre, porém, sucede. "Fascinado pela chamada vida social, recalque natural de dificuldades vividas na infância, passou a desfilar como ser excepcional, que provocava exclamação e inveja nos círculos frívolos dos meios em que comparecia festivamente.

Distanciando-se dos enfermos e sofredores, fez-se rude no trato com as demais pessoas, subestimando-as, soberbo nas expressões comportamentais, verdadeiro astro da mediunidade de ocasião, e em tudo quanto realizava em nome da Caridade, disfarçava embutidos os sentimentos de autopromoção e exibicionismo, longe, portanto, do amor ao Bem e do culto irrestrito do dever. "Desnecessário dizer que passou da obsessão simples para a fascinação, quando não lhe faltaram corresponsáveis, e, por fim, tombou, aturdido, na subjugação, que o fez mais agressivo, quando não totalmente vulgar. " Estávamos chegando à pequena e especial enfermaria na qual se alojava o enfermo, quando o dedicado diretor concluiu:

— Nesse estado de alienação espiritual e moral, tornou-se a estrela das festas da futilidade, aplaudido pelos incautos, seus semelhantes, e mentalmente foi acometido pelos acicates dos inimigos desencarnados que o exploravam e o induziam à perda do contato com os Benfeitores da Vida Maior.

Numa noite de horror, após a exibição em uma das promoções que realizava com frequência para lisonjear o próprio ego, foi acometido de uma isquemia cerebral inesperada, e não obstante atendido com urgência, padeceu um bom par de meses em tratamento hospitalar, sucumbindo sob o assédio dos inimigos que o arrastaram para a repugnante região de onde foi agora retirado. "A mediunidade é ponte de serviço, pela qual chegaram à Terra as informações do mundo espiritual, ensejando a Allan Kardec a construção da incomparável Obra que legou à humanidade como patrimônio indestrutível para os tempos do futuro.

No entanto não é imprescindível para a preservação da Doutrina, que a dispensa, sendo o seu exercício, sem a prudência e orientação do Espiritismo, sempre um risco de imprevisíveis consequências para o seu usuário, assim como para todos aqueles que compartilham das experiências sem controle. " Silenciando, convidou-nos a entrar.

Deparei-me com uma cena inesperada.

O enfermo encontrava-se sob forte indução hipnótica ainda em sono provocado.

O aspecto horrendo permanecia como na véspera.

Assistido por enfermeiros dedicados, gritava com regular frequência, como se continuasse sob açoites e lapidações que experimentara.

Os odores fétidos, embora diminuídos, em razão do ambiente assepsiado, continuavam, causando algum mal-estar.

—Nosso amigo encontra-se em sono profundo que lhe foi aplicado — esclareceu Dr.
Ignácio — porque, ao despertar, face ao longo período em que esteve prisioneiro, poderia sair correndo em desespero, pensando fugir da rocha a que se encontrava atado.

O nosso labor inicial é fluidoterapêutico, a fim de desvesti-lo das couraças vibratórias em que se encontra envolvido, até podermos chegar mais tarde ao seu psiquismo anestesiado pelas energias dos algozes que o entorpeceram desde os dias quando transitava no corpo físico. "Oremos com unção, a fim de que nossa mente possa envolvê-lo em vibrações de harmonia, dissipando as camadas de energia deletéria que o subjugam, mantendo as imagens cruéis que o dilaceram mentalmente. " Sem mais detalhes, o amigo silenciou e mergulhou em profunda oração, sendo acompanhado por mim e pelos demais auxiliares presentes.

Lentamente uma suave claridade em tons alaranjados desceu sobre o enfermo e um suave perfume invadiu o ambiente contrastando com as emanações enfermiças que foram ultrapassadas.

Após alguns minutos de oração silenciosa, que se transformaram em bálsamo para o internado, fomos convidado a sair, deixando-o entregue a enfermagem competente.

No lado externo, Dr. Ignácio informou-nos que, a noite, seria realizada uma reunião especial de tratamento, contando com a presença da Senhora Maria Modesto Cravo e do venerando Eurípedes Barsanulfo, para a qual me convidava.

Acompanhamo-lo até a porta do gabinete onde nos despedimos, ali encontrando Alberto, que se dispôs a continuar conosco.


Manoel Philomeno de Miranda









ÁUDIO:

O insucesso de Ambrósio - Mediunidade e Obsessão
Rádio Rio de Janeiro

Apresentação: Moisés Santos