segunda-feira, 7 de março de 2022

Joanna de Ângelis - Livro Atitudes Renovadas - Divaldo P. Franco - Cap. 05 - Considerações sobre a tristeza




Joanna de Ângelis - Livro Atitudes Renovadas - Divaldo P. Franco - Cap. 05


Considerações sobre a tristeza


Os sentimentos humanos expressam-se de variada forma, com flutuações que determinam o equilíbrio, a saúde mental e emocional ou os estados patológicos, necessitados de tratamento.

A tristeza não é o inverso da alegria, mas a sua ausência momentânea.

É um estado que conduz à reflexão e não ao desinteresse pela vida, à contemplação dos valores vividos e não à melancolia, mas à análise das necessidades reais ainda não expressadas..
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Ante a temerária depressão generalizou-se o conceito de que a tristeza, a melancolia e a antiga acédia ou acídia são todas a mesma expressão do sentimento.

A tristeza, porém, é um fenômeno natural que ocorre com todas as pessoas, mesmo aquelas que vivenciam os mais extraordinários momentos de alegria. Pode ser considerada como uma pausa para a compreensão da existência, avançando no rumo do júbilo.

A melancolia é um estado de saudade de algo conhecido e perdido ou desconhecido e não experimentado que, em se prolongando, pode transformar-se em depressão.

Enquanto a tristeza convida à viagem interior, propondo avaliação de comportamento e consideração de valores aceitos, a melancolia normalmente é resultado de algum ser querido. No início, é natural que ocorra, no entanto, em se prolongando por algumas semanas converte-se em transtorno depressivo, que necessita de competente tratamento.

A sociedade contemporânea estabeleceu que a alegria deve ser um estado constante de todos os indivíduos, significando êxito, realização nos relacionamentos, triunfo social e econômico, conquista de posição relevante. Em consequência, há um estereótipo representando alegria, mesmo quando o coração chora e o espírito se debate em conflitos e dores não exteriorizados.

Ninguém pode viver em alegria permanente, o que seria igualmente patológico, uma forma de alienação da realidade, que sempre exige seriedade, esforço e trabalho, a fim de ser vivida em forma edificante.

A frivolidade apresenta-se, quase sempre, em alegria leviana, irresponsável, porque desvia a pessoa das responsabilidades que lhe dizem respeito, flutuando na indiferença entre os deveres e os prazeres.

Não se pode nem se deve afivelar a máscara da alegria televisiva na face, demonstrando um júbilo que não é real, porque o próprio organismo, a cada momento passa por alterações que modificam o humor, convidam ao silêncio, à reflexão, ao refazimento de atitudes.

(...) Pode acontecer, igualmente, que, de um instante para o outro, perceba-se que aquilo que se está fazendo não é exatamente o que se gostaria de realizar, abrindo espaço para uma certa tristeza, que irá contribuir para refazer experiências e viver-se conforme os novos padrões emocionais.

A felicidade expressa-se no conjunto tristeza-alegria, na condição de ponte que une distâncias aparentemente opostas.

Não são poucos aqueles que possuem os preciosos recursos econômicos, os triunfos sociais e políticos, religiosos e artísticos, ou de outro tipo, experimentando solidão e vazio existencial, que têm origem em reencarnações anteriores.

Não possuindo estrutura moral segura, esse paciente foge para os alcoólicos, as drogas aditivas, o sexo apressado, mantendo o riso e a falsa alegria, parecendo realizado, para logo tombar em estados dolorosos de melancolia e depressão.

Na cultura grega a melancolia era considerada, ora como punição dos deuses, noutras circunstâncias, como condição necessária para receber-lhes a inspiração.

Aristóteles, por exemplo, narra que Sócrates e Platão periodicamente experimentavam-na, sendo então por eles inspirados.

Consideramos, neste texto, a melancolia como a tristeza, o recolhimento, a necessidade de silêncio interior, por cujo estado mais facilmente sintonizavam com o pensamento espiritual procedente das Esferas superiores, dos Espíritos nobres que os orientavam.

Leon Tolstoi, o célebre escritor russo, vivenciou uma grande tristeza, que lhe exigiu reflexões profundas em torno do existir, do porvir, do viver. Encontrando-se na melhor fase da sua carreira de escritor, amado por uma família feliz e conhecido praticamente em todo o mundo, respeitado e rico, repentinamente começou a contestar a própria existência, tendo impulsos quase suicidas, que lutou para evitar e corajosamente superou.

Não chegou a entrar em depressão, mas a considerar que os valores até então aceitos e disputados eram vazios, não lhe conseguindo mais preencher o íntimo com reais alegrias.

Depois de grande interiorização, leu o Evangelho de Jesus e nele encontrou a resposta, a verdadeira alegria, mudando o modus vivendi, repartindo a fortuna, os bens, assumindo postura simples e o comportamento de cidadão modesto, tornando-se irmão do seu próximo e dando lugar a uma verdadeira revolução, em face daqueles que o seguiram nessa decisão.

Perseguido pela religião dominante na Rússia, como herege, declarou sua crença no Deus justo, de amor, de misericórdia e de justiça, Pai de todas as criaturas que tinham o mesmo direito de ser felizes na Terra.

Quando o Espírito, que tem sede de paz e de plenitude, descobre que está engessado nos compromissos sociais, atrelado ao relógio que lhe comanda todos os momentos, obrigado a comportar-se de maneira padronizada, livre, mas escravo das imposições dos multiplicadores de opinião da mídia mercantilizada, mais interessada nos mecanismos do consumo do que na criatura em si mesma, desperta desse letargo, dessa ilusão que se permite, experimenta tristeza pelo tempo malconduzido.

Trata-se de uma tristeza saudável e enriquecedora, essa que se manifesta, não como infelicidade, mas como terapia para o excesso de risos e de aparências...

A preocupação que toma conta da sociedade contemporânea em parecer, é tão grande, que se estabeleceram padrões para a beleza, o comportamento, a alimentação, os relacionamentos, as posturas do triunfo e a conquista dos minutos de holofotes...

A tristeza, portanto, tem vez em qualquer comportamento moral, social, religioso, individual, trabalhando o indivíduo para a renovação interior e a conquista de valores mais profundos e significativos do que os existentes e consumidores.

Nada obstante, não se deve cultivar a tristeza como necessária para o discernimento a cada instante ou em toda parte.

Fenômeno psicológico transitório, deve ceder lugar à reflexão, ao despertamento e à valorização dos tesouros morais, culturais e espirituais.

A tristeza sem lamentação, sem queixas, sem ressentimentos, é, pois, psicoterapêutica, de vez em quando, para a conquista real do equilíbrio, com discernimento do que é lícito e deve ser conquistado.

Muitas vezes Jesus chorou de tristeza contemplando a loucura humana, o seu desequilíbrio, o desinteresse pelo verdadeiro e a ambição pelo mentiroso.

Sorriu, também, quando choraram aqueles que O foram ver no sepulcro, então ressuscitado, como houvera antes muitas vezes chorando.

Mergulhou em tristezas, em muitas ocasiões, quando, por exemplo, buscou o deserto para meditar, quando incompreendido pelos exploradores do povo, quando encontrou o Templo transformado em mercado de interesses inferiores, quando no Horto das Oliveiras...

A tristeza era-Lhe familiar, embora Ele houvesse trazido as boas novas de alegrias para a humanidade.

Não cultives a tristeza nem fujas dela, aceitando-a, quando se te apresentar e retirando o melhor resultado da oportunidade de reflexão que te proporcione.

Com esse comportamento estarás experienciando atitudes renovadas.


Joanna de Ângelis












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