Ermance Dufaux - Livro Diferenças não são defeitos: A riqueza da diversidade nas relações humanas - Cap. 14
O amor nas relações não exclui o teste da ingratidão
"Que se deve pensar dos que, recebendo a ingratidão em paga de benefícios que fizeram, deixam de praticar o bem para não topar com os ingratos? Nesses, há mais egoísmo do que caridade, visto que fazer o bem apenas para receber demonstrações de reconhecimento é não o fazer com desinteresse, e o bem, feito desinteressadamente, é o único agradável a Deus." (O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. 13, item 19)
Ele era um homem rico de qualidades morais. Aplicado servidor daquela casa espírita. Zeloso, cuidava com carinho pelas variadas frentes de serviço, dispensando incentivo e preparo.
Dobram-se os anos e ele, fiel, cada dia mais tomava sobre si as responsabilidades e doava-se em esforços. Acontece-lhe, no entanto, um doloroso teste que o abate em distraída invigilância.
Aqueles que mais o amavam, os que dividiam os tempos de alegria e dores, sem mais nem menos, em razão de fofocas rotineiras, agridem-no em flagrante ingratidão e intentam afastá-lo dos cargos, buscam subtrair-lhe a autoridade com a infâmia, e procuram diminuí-lo com discriminações. Colhido de surpresa ante o inesperado, penetra as faixas tenebrosas da revolta e, em golpe ardiloso da obsessão, abandona os deveres e debanda-se pela vida por entre mágoas e queixumes, passando o resto dos seus dias perguntando a razão de semelhante ingratidão, e contabilizando, sempre em seu favor, os créditos em serviço, o que lhe aumentava ainda mais a revolta e o ressentimento.
A ingratidão poderá bater à porta de tuas experiências na pessoa daquele que menos esperavas, colocando-te a inteligência afetiva em desafio doloroso.
Aceita-a, apesar da dor dilacerante, como aviso de Deus, para te desapegares de anseios e desejos que, possivelmente, te manteriam na retaguarda do progresso.
Se te encontras matriculado na escola terrena nas preciosas lições do espiritismo cristão, cuida-te com atenção quanto ao doloroso teste da ingratidão.
Quando te encontrares ferido pelas pedras da mentira e da injúria, ora pelos que te caluniam e perseguem.
Nas situações da traição e infidelidade, mantém-te sóbrio e perdoa incondicionalmente.
Quando as dores acerbas do desapreço te ferirem, partindo justo daqueles que menos esperavas, busca o Mais Alto e compenetra-te no espírito do idealismo superior que te assegura alívio e estímulo, e conceda à vida o tempo que ela necessita para ajustar à tua volta a ordem natural dos fatos, que te engrandecerão o entendimento e servirão de imprescindíveis disciplinas na aquisição dos valores espalhados pela plenitude do amor e da serenidade.
A ingratidão como retribuição aos benefícios é aferição de dilatada exigência ao trabalhador espírita, a fim de avaliar o aproveitamento dos discípulos nos testemunhos da abnegação e da humildade, do desapego e do amor incondicional.
Serve e prossegue
Realiza e esquece.
Empenha-te e desculpa sempre.
Esse doloroso teste é, em verdade, prova promocional que elevará as possibilidades do servidor nos ofícios doutrinários.
Todos os que, efetivamente, serviram aos ideais de Jesus, foram, em determinado instante, incompreendidos no seu desprendimento e na fieira de seus sacrifícios, sendo taxados de irresponsáveis ou fanáticos, personalistas ou vaidosos.
O exemplo vivo do cristão verdadeiro provoca incômodo ao comodismo dos distraídos, causa dramas de consciência nos que carregam os conflitos da culpa, excitam a inveja naqueles que se sentem fracos e inabilitados, estimula o ciúme em quantos guardam pretensões de domínio e perturbam o relativo equilíbrio dos que ainda não desenvolveram a fé em seus corações.
Firma-te nos programas do bem e ora continuamente. Abandonar, jamais.
Se abandonares o trabalho, estarás assinando um termo de concórdia às reprovações que te são dirigidas. Propõe, ao contrário, diálogo, oração e tempo na solução dos desentendimentos que provocam incêndios nas relações.
Se buscam tolher tuas ações, trabalha ainda mais. Se te doem na sensibilidade as chibatadas do desprestígio, harmoniza-te com os tesouros de afeto e reconhecimento que te emprestam tantos outros amigos que te amam e reverenciam.
Jesus, o Divino Pomicultor, foi taxado de inimigo do bem tão somente porque cumpriu, na prática, a Velha Lei e os Mandamentos. Quem ilumina sempre corre o risco de ser julgado como dominador.
Por mais te sintas apedrejado, levanta o ânimo confiante, porque é nessas horas do doloroso teste que o Senhor espera de ti o amor sacrificial na sublime pergunta: O galardão há em amardes somente a quem vos ama?
Ermance Dufaux
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