Hammed - Livro Os Prazeres da Alma - Francisco do Espírito Santo Neto - Introdução
Os prazeres da alma
A "hermenêutica", que poderia traduzir-se como a "arte de interpretar textos ou o sentido das palavras", expõe em detalhes o significado de trechos ou mesmo de obras inteiras (literárias, religiosas, artísticas, etc.)- Ela deriva do nome próprio grego "Hermes" -filho de Júpiter, deus da eloquência, considerado o "mensageiro dos deuses".
Nesta obra, a exemplo de "As dores da alma" servimo-nos das contribuições da "hermenêutica" para proporcionar uma série de sugestões com o objetivo de nos comunicarmos melhor e, simultaneamente, fazer com que os outros possam nos entender com maior clareza.
Organizamos nossas idéias e considerações reflexivas sem nenhuma pretensão de nos julgarmos versado hermeneuta ou especialista em qualquer tipo de elucidação.
Queremos apenas, humildemente, submetê-las ao valioso e habitual exame dos leitores amigos. Muitos companheiros poderão se surpreender com nossa técnica de isolar os trechos das questões de "O Livro dos Espíritos", revestindo-os de tonalidades e vivacidade peculiares. De algumas questões retiramos apenas pequenas sentenças, envolvendo-as com um aspecto particular e, em outras ocasiões, aproveitamo-las por completo.
Agimos dessa maneira porque acreditamos que, num extenso pomar, onde há o cultivo de grande quantidade de arvores frutíferas, cada uma delas tem função e qualidade exclusivas. Assim também no imenso conjunto dos ensinamentos da Doutrina Espírita: cada estudioso adapta-se a determinada compreensão ou entendimento conforme seu grau evolutivo, na grandiosa escala da vida universal.
Transcorridos 145 anos do surgimento do Espiritismo, sua mensagem continua sendo a luz que ilumina o organismo social terrestre e inaugura nas paisagens do mundo uma Nova Era. Restaura nos corações humanos os ensinamentos límpidos do Evangelho de Jesus e abre espaço no seio da humanidade para uma religião de realidade interna.
A Ciência do Espírito proporciona o bem geral definitivamente, concedendo às criaturas a paz e o contentamento de viver, enquanto a ciência acadêmica, que é igualmente útil e benéfica, tenta reivindicar para si o atributo de constituir o único meio capaz de pesquisar e compreender as coisas do Universo.
Este livro é parte de um esforço reflexivo no qual analisamos algumas das teorias psicológicas do eminente pesquisador e psicólogo Dr. Carl Gustav Jung sob a ótica dos conceitos espíritas; também estudamos outras, utilizando as concepções do budismo. Mas, efetivamente, nos servimos, de modo especial, da psicologia espírita, que está sedimentada na visão cristã e na fé raciocinada e desvinculada de qualquer caráter convencional ou místico.
Os textos aqui reunidos são produto de nossa experiência de vida, e foram aprimorados de maneira espontânea no decorrer do tempo. Fazem parte do conjunto de bens de nosso diminuto patrimônio de convicções e preceitos.
Foram objeto de estudo os potenciais humanos, os quais denominamos de "prazeres da alma" -sabedoria, alegria, afetividade, coragem, autoconhecimento, lucidez, compreensão, amor, respeito, liberdade, desapego, compaixão, individualidade, perdão e outros tantos.
Não desejamos, porém, criar "conceitos estáticos e distintos", pois acreditamos que dar "receitas virtuosas" ou apresentar "cartilhas comportamentais" é acreditar que há uma só visão de mundo ou uma só descrição correta e exata das coisas, ignorando que as experiências podem complementar as idéias e ampliar as percepções tal como elas são, aqui e agora e a cada momento no futuro.
Tudo o que precisamos aprender é analisar cada sensação, fato ou acontecimento no instante em que eles surgirem. Jamais definir ou atribuir significados rígidos e taxativos a tudo o que existe. O "caminho da multiplicidade" nos mostra bem como ver e fazer isso.
Não devemos enaltecer nossas concepções, ou tomá-las como idéias absolutas, mas analisá-las simplesmente como valores relativos. Só nos pertence aquilo que provém de nós mesmos. Devemos reaproveitar a realidade dos outros como "pontes", contentando-nos, porém, com nossa própria realidade. Não se pode reter ou guardar nada daquilo que não tenha vindo de nossas vias inspirativas.
Os livros ou as obras literárias podem muito nos ajudar, desde que não os elejamos como a verdade. A verdade não está na conceituação das palavras ou textos que se leem, mas nas experiências que podemos ter com ela, e a partir dela.
Por exemplo, estas páginas podem ser comparadas a uma "jangada" que nos transporta de uma margem para outra do rio. Todavia, quando chegamos ao outro lado, devemos buscar "horizontes" só nossos, e não nos prender obstinadamente ao meio de transporte que nos conduziu. Atingida a outra margem, precisamos ir mais além e não "olhar para trás"(1), mas "caminhar despertos e desapegados", seguindo o próprio ritmo existencial em busca da verdade.
"E a numerosa multidão O escutava com prazer!"(2) Buscamos neste trecho do Novo Testamento a inspiração para o título deste livro. A passagem aqui referida é registrada pelo apóstolo Marcos quando descreve o ministério de Jesus no templo de Jerusalém diante da coletividade que se reunia costumeiramente naquele recinto.
A eloquência do Nazareno transbordava de sua comunhão com Deus, e todos os que o ouviam sentiam intimamente um sagrado êxtase de amor. O Espírito nas sensações transcendentais rejubila-se por causa da sensação de liberdade.
O Cristo estava imerso na plenitude do Criador; por isso, suas palavras faziam emergir das profundezas das criaturas os adormecidos "prazeres da alma". Sua argumentação amorosa e lógica levava as pessoas a sentimentos muito intensos de alegria, prazer, admiração e entusiasmo.
Nossa maior fonte de desprazer ou insatisfação é acreditar que os recursos de que necessitamos para bem viver estão fora de nós. Os bens de que precisamos estão dentro de nós, visto que cada ser humano é um "livro sagrado" ou uma "biblioteca viva" de conhecimentos imortais.
Agradeço ao Senhor da Vida o presente trabalho, levado a efeito graças à colaboração de um conjunto de amigos generosos que se dedicam a divulgar o conhecimento da Vida Maior. Seareiros que oferecem a todos os leitores um "novo entendimento", para que possam viver de uma maneira plena, o buscando no templo da própria alma a luz celeste.
A "consciência iluminada" é a salvação das almas. O "reino dos céus" não despertará em nosso mundo interior enquanto estivermos atrelados a algum modelo externo de vida. Isso só ocorrerá quando nos sintonizarmos com a essência divina que existe em nós, a qual será sempre o nosso porto seguro, a moradia de que precisamos e que um dia se revelará por abrigo e consolo, benção e segurança, hoje e amanhã, agora e sempre. Com apreço e votos de paz,
Hammed
Catanduva, 16 de outubro de 2002.
(2) Marcos, 12:37
Fonte: Os Prazeres da Alma (psicografia Francisco do Espirito Santo Neto - espirito Hammed).pdf
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