André Luiz, em: Ação e Reação de Chico Xavier
...Um moço de expressão simpática abeirou-se de nós e, depois de saudar-nos afetuosamente, observou, inquieto:
_ Instrutor amigo, ouvindo-lhe a palavra educativa e ardente, fico a cismar nos enigmas da memória... Por que este olvido para cá da morte física? Se tive existências outras, antes da última, cujos erros agora procuro reparar, por que razão me não lembro delas? Antes de partir para o campo físico, na romagem que me fixou o nome pelo qual hoje respondo, devo ter deixado bons amigos na vida espiritual, assim como alguém que, viajando na Terra de um continente para outro, comumente deixa no cais afeiçoes queridas que não o esquecem... Como justificar a amnésia que me não permite recordar os companheiros que devo possuir a distância?
_ Bem -, ponderou o interpelado, sabiamente -, os Espíritos que na vida física atendem aos seus deveres com exatidão, retomam pacificamente os domínios da memória, tão logo se desenfaixam do corpo denso, reentrando em comunhão com os laços nobres e dignos que os aguardam na Vida Superior, para a continuidade do serviço de aperfeiçoamento e sublimação que lhes diz respeito; contudo, para nós, consciências intranqüilas, a morte no veiculo carnal não exprime libertação. Perdemos o carro fisiológico, mas prosseguimos atados ao pelourinho invisível de nossas culpas; e a culpa, meu amigo, é sempre uma nesga de sombra eclipsando-nos a visão. Nossas faculdades mnemônicas, relativamente às nossas quedas morais, assemelham-se, de certo modo, às conhecidas chapas fotográficas, as quais, se não forem convenientemente protegidas, sempre se inutilizam.
O mentor fez prevê pausa em suas considerações e continuou:
Imaginemos a mente como sendo um lago. Se as águas se acham pacificadas e límpidas, a luz do firmamento pode retratar-se nele com segurança. Mas, se as águas vivem revoltadas, as imagens se perdem ao quebro das ondas moveis, principalmente quando o lodo acumulado no fundo aparece à superfície. A rigor, somos aqui, nas zonas inferiores, seres humanos muito distantes da renovação espiritual, não obstante desencarnados.
O consulente escutava-o, visivelmente surpreendido, e dispunha-se a formular interrogações novas, ante a pausa que se fizera, mas Druso, antecipando-se-lhe à palavra, acentuou em tom amigo:
_ Observe a realidade em si mesmo. A despeito dos estudos a que presentemente se confia e apesar das sublimes esperanças que lhe ocupam agora o coração, seu pensamento vive preso aos sítios e passagens de que, pela morte, supostamente se desvencilhou. Em pleno caminho da espiritualidade, você se identifica com as escuras reminiscências que permanecem ao longe, no tempo: o lar, a família, os compromissos imperfeitamente solucionados... Tudo isso é lastro, inclinando a sua mente para o mundo físico, onde nossos débitos reclamam sacrifício e pagamento.
_ É verdade, é verdade... – suspirou o rapaz, compungidamente.
Mas o Instrutor prosseguiu:
_ Sob a hipnose nossa memória pode regredir e recuperar-se por momentos. Isso, porém, é um fenômeno de compulsão... E em tudo convém satisfazer à sabedoria da Natureza. Libertemos o espelho da mente que jaz sob a lama do arrependimento, do remorso e da culpa, e esse espelho divino refletirá o Sol com todo o esplendor de sua pureza.
Druso ia continuar, mas a chegada de um colaborador impeliu-nos à conclusão do assunto...
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