Bittencourt Sampaio - Livro Palavras Sublimes - Espíritos Diversos / Chico Xavier - Cap. 3
Nos “Ais” do Apocalipse
Não é debalde que se vos tem anunciado das Alturas serem chegados os tempos preditos pelo Cordeiro divino para o estabelecimento da verdade entre os homens. Os séculos passaram, no seu escoar incessante, sobre a personalidade de Jesus Cristo; todavia, não conseguiram empanar as suas promessas que se cumprirão integralmente, como outrora se cumpriram, com a sua vinda ao mundo, as profecias dos elevados Espíritos que escreveram com os seus sacrifícios a história de Israel.
Tocais a época em que a luz espiritual se derramará sobre as trevas da carne e das impurezas; mas luz que nascerá de choques tremendos, obedecendo à lei natural que presidiu aos cataclismos inconcebíveis, que varreram da face do planeta, em seus períodos primários, as causas de desorganização para que se efetivasse a aglutinação de todos os elementos aptos a receber em seu seio os primeiros organismos humanos.
Como vós outros, é nas sagradas promessas do passado que bebemos as inspirações do futuro e sem nos aventurarmos imprudentemente pelo terreno das afirmações categóricas, que implicariam desconhecermos o nosso dever de submissão aos sábios e irrevogáveis decretos do Altíssimo, podemos afiançar que a transformação moral da humanidade se processa de há muito e de há muito uma ativa colaboração dos Espaços Infinitos se vem fazendo sentir nos destinos da humanidade, com o elevado objetivo de norteá-la para o verdadeiro conhecimento da vida.
O Cristianismo, em suas origens simples e puras, iniciou um ciclo de progresso espiritual no planeta e o século XX, com as suas concepções de liberdade, dentro da razão e da ciência, assinala a transação entre a morte do mundo material e o nascimento de uma nova era.
É claro que nem todos os homens se apercebem da verdade evangélica, porém, apáticos ou indiferentes, serão tocados pela vibração que fará estremecer todas as almas e estalar de ansiedade os corações.
Chegaram os tempos em que a verdade será dita de cima dos telhados e, sem retórica, serão as dores as portadoras das suas mensagens, porque o “homem velho” reagirá contra o “homem novo”.
A guerra se desencadeará, porém, um tombará na noite caliginosa da ignorância, com as suas armas fratricidas, e o outro surgirá na alvorada do Evangelho de Amor. Contudo, aos tempos novos, cujos eflúvios de paz podeis prelibar, quantas flagelações e dores expiatórias não custarão!
Instituições veneradas, sistemas filosóficos, organizações políticas desaparecerão no abismo que tragará todos os fatores do estacionamento e da esterilidade entre os homens, e os corações serão lavados com lágrimas, purificando-se nessas abluções divinas.
A luta será gigantesca; vereis homem contra homem, nação contra nação. A guerra, esse pavoroso gênio do extermínio, alargará todas as suas possibilidades de destruição e suas vozes aterradoras anunciarão outros flagelos, decorrentes da sua ação corrosiva, mas necessária. Então, a humanidade se lembrará daquela voz austera e doce que lhe exprobrava: “Ó Jerusalém, Jerusalém, quanta vez eu te quis abrigar, como a galinha aos seus pintinhos!”
Tais acontecimentos serão atestado de um trabalho de seleção que se fará entre todos os elementos espirituais do orbe terráqueo e o homem, amedrontado, assistirá aos funerais de toda uma civilização que, tendo nas veias do seu vasto organismo o sangue metálico, o ouro corruptor dos seus anseios de espiritualidade, conservador dos instintos animalizados, sangue viciado pelo vírus de um egoísmo sem limites, morrerá intoxicada pelos excessos e pelos desvarios a que se entregou desenfreadamente.
A confusão se consumará e o mundo verá a morte das facções teocráticas, porque todos os templos materiais serão destruídos, todos os sistemas de falsa democracia desaparecerão no vórtice de reações fantásticas, que abalarão as coletividades tomadas de pavor.
Uma onda de destruição pairará sobre a Terra; mas no período das grandes dores uma voz ecoará branda e severa, compassiva e energética para coordenar o princípio do novo ciclo de evolução planetária.
A escória espiritual constituída pelos cegos e surdos voluntários será exilada como raça de seres decaídos, porque não mais a sede maldita de ouro predominará entre os homens e um fraternismo cristão se implantará sob uma só bandeira de paz.
Os Espíritos prepostos a essa grande obra de alevantamento moral do planeta já se acham a postos, entre as sombras da carne, para amparar os fracos e libertar os oprimidos, na realização das promessas evangélicas e para sustentar as almas combalidas nos “ais” do Apocalipse.
Nos Espaços, elaboram-se grandiosos projetos, todavia, na execução dos planos divinos estão eliminadas as noções de tempo e de espaço. Por esse motivo, os que podem descortinar algo do futuro se acham isentos da ideia estreita de pátria e personalidade, e de forma alguma circunscreverão suas palavras. Para os homens, falarão de modo que parecerá vago, mas essa suposição nasce de uma interpretação falsa, porquanto aqueles se acham possuídos da real concepção do Universo e da fraternidade de todas as almas.
O que vos afirmo é que, como no princípio o Verbo estava com Deus, a Terra se formou, tem vivido e viverá com o Verbo, que está com Deus até a consumação dos evos.
O Verbo é a verdade e toda verdade que se tem manifestado no mundo, e que aí se há de manifestar, será a sua voz interpretada pelos corações que com ele se identificam.
Jesus presidiu e presidirá a todas as transformações do planeta e o que se faz mister é que vos identifiqueis com ele. Para esse trabalho superior e dignificante, tendes o Evangelho, sinopse de todos os compêndios do aperfeiçoamento espiritual.
Orai e vigiai, mas, sobretudo, amai muito. Aguardai sem desânimo e sem impaciência a hora que se aproxima. Sede os verdadeiros trabalhadores da seara divina.
Existe formada uma caravana de bons obreiros desde os primórdios do trabalho de evangelização do mundo. Essa caravana jamais se dissolveu e tem aumentado com a incorporação de muitos Espíritos de boa vontade. Integrai-lhe as fileiras.
Reconhecereis os seus membros não através de suas palavras, mas através dos seus atos. Eles não trazem ouro nem prata, porém constituem focos de virtudes espirituais. Não são filhos do século, mas sim da luz e se lhes pode aplicar a palavra do Mestre aos apóstolos bem-amados: “Eu vos envio como ovelhas ao meio dos lobos”.
Esperai, pois, com humildade e pureza, e trazei o vosso coração como um tabernáculo sagrado, onde seja depositada a centelha que restabelecerá a verdade. Nunca vos detenhais nas palavras; procurai descobrir o espírito, a essência de todas as coisas.
Lembrai-vos de que a cada um será dado segundo as suas obras. E que o Espírito da Verdade se derrame sobre todos os corações, amenizando todos os sofrimentos e estabelecendo o reinado da verdadeira paz sobre a Terra.
Bittencourt Sampaio
Reformador — 16 de março de 1934.
Francisco Leite de Bittencourt Sampaio nasceu em Sergipe, na cidade de Laranjeiras, em 11 de fevereiro de 1834, vindo a desencarnar no Rio de Janeiro em 10 de outubro de 1895. Foi magistrado, político, jornalista, poeta e médium receitista no Grupo Confúcio, na capital carioca. Fundou a Sociedade de Estudos Espíritas Deus, Cristo e Caridade em 1876.
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