Conversa com LampiãoPor que esse enfoque do mundo espiritual com o submundo foi tomando um vulto maior nos ambientes da Doutrina Espírita?
— Na vitrine do planeta Terra não pode ser exposta somente as belas gemas dos países desenvolvidos. A miséria e a dor necessitam de divulgação, de vir à tona, para que as soluções sejam pensadas. Não haverá mundo regenerado sem socorro e orientação aos países pobres. O universo é um sistema e jamais seremos felizes sem solidariedade e consciência social. Dizem os guias da Verdade: “Numa sociedade organizada segundo a lei do Cristo, ninguém deve morrer de fome.”(1). Essa mesma linha de pensamento deve ser aplicada para o astral.
Como há livros mediúnicos tratando de colônias santificadas, torna-se inadiável revelar que os orientadores de tais colônias têm seus olhos e corações voltados ao submundo astral. Quanto mais elevação espiritual, mais a alma compreende seus laços com a escória humana. Nos porões da erraticidade habitam expressiva parcela de nossa família terrena, mendigando afeto e orientação. Todos temos mais ligação com eles do que supomos.
— Para nós, espíritas, há algum motivo especial em nos conscientizarmos dessa realidade do submundo?
— O contato com o mundo espiritual, em todos os tempos, sofreu açoites e pedradas com os objetivos escusos de encobrir a verdade e esconder a luz da imortalidade. De algumas décadas para cá, a luz da mediunidade livre e responsável vem sendo apagada paulatinamente, o que tem impedido o homem de descobrir as origens da escuridão e do mal. Essa dinâmica inclui os ambientes do Espiritismo, nos quais os cadeados da censura e da descrença têm escravizado muitos médiuns e trabalhadores de boa intenção. A espinha dorsal do mal na humanidade tem raízes históricas com o Cristo. Portanto, os discípulos do Evangelho devem estar conscientes de quando e como os adversários do Senhor procuram exterminar suas iniciativas no bem.
— Diante dessas suas colocações, nosso GEF poderia ajudar de que forma? – perguntou Suzana.
— De muitas formas. Citarei algumas tarefas que tenho aqui anotadas pela nossa equipe responsável pelos assuntos da mediunidade. São temas desenvolvidos pelo nosso orientador José Mário. Vamos lá! – e começou a ler alguns tópicos que já haviam sido passados por mim algum tempo atrás:
•Remoção de tecnologia parasitária, como implantes, chips e aparelhos de dominação mental alojados nos corpos sutis.
•Alinhamento de chacras e exame de quando estão invertidos, paralisados ou acelerados.
•Limpeza da aura por meio de retirada de ideoplastias, clichês mentais e morbos psíquicos.
•Desobstrução de chacras com eliminação de inflamações ou infecção larvária.
•Reconhecimento de ovoides naturais e artificiais.⁷.
•Intervenções em diversos formatos de goécia.
•Reconhecimento e eliminação de energias do mau-olhado.
•Asseio de cordões energéticos.
•Trabalhos de limpeza com intervenção dos elementais.
•Desobstrução dos pontos de angústia no chacra cardíaco.
•Choque anímico com entidades inconscientes e hipnotizadas por licantropia e zoantropia.
•Puxada de aura coletiva do inconsciente do grupo para limpeza de resíduos das tarefas.
•Técnicas para fechamento do corpo e proteção energética.
•Limpeza astral de lares, ambientes e objetos que servem de endereço vibratório.
•Orientação sobre como eliminar os efeitos perispirituais da mediunidade estagnada em médiuns afastados e sob regime de controle de falanges.
•Cirurgias no perispírito e no duplo etérico.
•Escoamento da matéria mental da culpa.
— O senhor falou em vibriões? O que são? – perguntou Suzana.
— São chamados assim, na erraticidade inferior, os espíritos acentuadamente culpados, que perderam sua forma perispiritual humana. Suas mutações de aparência obedecem a complexos fenômenos de zoantropia, que são ativadas quando se abrem os porões do inconsciente e surgem os impulsos capazes de animalizar a forma. Alguns vibriões apresentam-se na coloração que se aproxima muito de um fígado bovino. São arroxeados, muito magros e com a órbita dos olhos totalmente avermelhadas, como se estivessem preenchidas por sangue. São escorregadios e gelatinosos. Quando conseguimos resgatar alguns, temos que transportá-los agarrados ao peito com larga dificuldade, porque, se os apertamos muito, eles sentem dores terríveis! São muito gelados, com temperaturas que chegam a menos cinco graus Celsius, em seu estado mais habitual. Por incrível que pareça, com essa temperatura, ostentam pressões sanguíneas altíssimas, entre 22x8 e 23x9. Não conseguem andar e sofrem muito com a luz. Excretam secreções por todos os orifícios, alimentam-se de substâncias salinas e água comum. Nada mais!
Outros vibriões são esbranquiçados e também escorregadios. Lembram um carnegão de um furúnculo da pele humana, só que bem maiores. São gordurentos e malcheirosos. A única parte deles que lembra o ser humano são os olhos envoltos numa protuberância branca que se abrem por algumas vezes. Estão ambos a caminho da ovoidização.
Quando dissemos que almas apodrecem do lado de cá, não foi uma metáfora. Os vibriões, em sua estrutura energética, são uma colônia virótica que desorganiza, pouco a pouco, os tecidos da sua roupagem perispiritual.
Todos eles gemem muito e, alguns, em estados de dor mais acentuada, emitem um silvo longo, fino e arrepiante, transformando os ambientes onde vivem em locais tétricos e de arrepiar até quem se encontra nas tarefas da luz. Eles ficam acomodados dentro dessas gavetas refrigeradas, ao serem selecionados pelos vigias, para que se recuperem. Na maioria dos casos, os vigias não têm escrúpulos e eles ficam lá sem nenhum cuidado.
O nosso papel é, com carinho e amor, reduzir o ritmo do “retrocesso”. Retardar a ovoidização, na esperança de que a Misericórdia permita algum desdobramento inesperado em cada caso. Não desistimos de amá-los. Se não o fizermos, quem fará? Quando nada acontece, pelo menos eles recebem asseio e amor, para despertar algo adormecido em seu inconsciente.
No Hospital Esperança, temos incubadoras com mais de quatrocentos espíritos que estão em estado de vibriões, ovoides e em estado de zoantropia. Os vibriões são almas culpadas que irradiam indiferença, apatia, indolência, preconceito e desprezo. Vivem nas regiões que circundam o Vale do Poder, nos arredores da Cidade da Luxúria. Não há virtude alguma na postura dos que comandam tais pátios de dor como vigias, pois eles fazem negócios com os vibriões.
No submundo reina a impiedade, o interesse pessoal e a inteligência do mal. Nos lixões, os capitães da maldade encontram farto arsenal para consumar seus tresloucados ímpetos de domínio. Eles alugam essas almas que perderam a forma para atormentar encarnados. A simples aproximação dessas criaturas à aura de um encarnado pode perturbá-lo das mais variadas formas. Diariamente são retirados vários vibriões das gavetas e colocados em gaiolas que reproduzem as condições daquele local, para serem levados à superfície da crosta, onde estão os encarnados, com o objetivo de infestar os ambientes terrenos. Cada vibrião é capaz de contaminar ambientes em um raio de pelo menos trezentos metros.
Por aí você pode deduzir que os lixões fazem parte da “economia social” das organizações da maldade. Os vibriões são escravos em todos os sentidos da palavra. São vendidos ou alugados a troco de serviços ou medidas que atendam aos interesses dessas legiões. Vibriões são moedas, mercadoria de troca. Não se assuste! É como são considerados nessas hordas. Os vibriões e seu hábitat são alvo de negociatas, assaltos e sequestros, no intuito de obter ganho pessoal ou de grupos. Os cemitérios de gaveta são palco de muitas atrocidades e constitui um mercado de loucuras a preço de objetivos escusos.
— Estou surpresa e engasgada! Fico pensando, irmão Ferreira... Vamos mesmo dar conta de receber uma criatura dessas aqui? Podemos ser atacados pelos grupos que atuam nessas esferas?
— Já estão sendo todos os dias e não sabem.
— Nem brinque!
— O que os faz pensar que começar uma tarefa nova com o submundo vai lhes permitir vivências novas ou novos ataques? Saiba que achamos vibriões em porta-malas de carros, em casinha de cachorro, no terreno de alguns lares, no jardim de centros espíritas, em empresas e até dentro de lares. Sabe aquela referência que vocês usam muito por aí: “macumba”? Pois é! Muitas delas, dependendo da gravidade do quadro e de quem manipula o feitiço, usam os vibriões, os ovoides e as entidades em processo de zoantropia e licantropia.
Para começar uma tarefa com o submundo, não precisa necessariamente ir até lá. É preciso aprender o quanto essa realidade já está no seu ambiente terreno, o quanto o submundo está cada vez mais perto da realidade terrena. Shoppings, restaurantes, bares e praças estão sendo frequentados por espécimes estranhos à sociedade, como peregrinos tresloucados desses vales astrais sombrios. As coisas não pioram para quem começa uma tarefa desse porte. O simples fato de começarem um trabalho com essas esferas já é uma defesa.
Por vezes, o personalismo, o preconceito, o julgamento, a adversidade, a antipatia e a arrogância têm causado desastres lamentáveis à obra do bem, entorpecendo inteiramente grupos de trabalhadores que passam a discutir suas questões pessoais e pontos de vista, ignorando totalmente os laços afetivos do seu grupo espiritual, na hora do conflito e da disputa. E por que isso acontece? Apenas por uma questão de maturidade moral? Não. Não é só por isso, embora resida nisso o ponto fundamental do exercício mediúnico com Jesus. Não podemos deixar de mencionar que a compreensão que se tem.
— Meu Deus! – Maurício tomou a palavra. Foi mais que um passo, foi uma caminhada!
— Nossa equipe está feliz com as primeiras orientações. Essa será a tônica das nossas atividades socorristas ao submundo. Vamos aprender fazendo. Vamos servir e ser úteis, pois são as formas pedagógicas mais eficazes de aprendizado.
As atividades daquela noite foram encerradas em clima de festa. Todos, sem exceção, nutriam esperanças e as depositavam em um único foco: na nossa equipe espiritual. Rendiam-se obedientes à força das ideias e do sentimento cristão que ali imperava. Nenhuma diferença conseguia abalar a força dessa união de propósitos. Era uma entrega pelo coração!
Essa talvez seja uma das conquistas que mais mereça destaque nos serviços de Jesus, aplicada aos sagrados campos da mediunidade. Por vezes, o personalismo, o preconceito, o julgamento, a adversidade, a antipatia e a arrogância têm causado desastres lamentáveis à obra do bem, entorpecendo inteiramente grupos de trabalhadores que passam a discutir suas questões pessoais e pontos de vista, ignorando totalmente os laços afetivos do seu grupo espiritual, na hora do conflito e da disputa.
E por que isso acontece? Apenas por uma questão de maturidade moral? Não. Não é só por isso, embora resida nisso o ponto fundamental do exercício mediúnico com Jesus. Não podemos deixar de mencionar que a compreensão que se tem da mediunidade possui enorme e decisiva influência nos grupos mediúnicos, para que ajam com tamanho descuido e desconsideração aos vínculos e laços espirituais. E compreensão é também um dos ingredientes da maturidade emocional e moral.
Boa parcela dos serviços mediúnicos ainda está afeiçoada à ideia de sempre amparar as sombras, porém, poucos conseguem traduzir, comunicar ou alcançar uma ligação afinada com os servidores da luz. Com essa conotação de que a mediunidade tem por objetivo socorrer espíritos em desajustes dolorosos, os benfeitores quase não têm vez de participar das tomadas de decisão. Com esse propósito nobre de servir às dores dos desencarnados, muitos grupos não encontram razões e estímulos para uma conexão com seus orientadores.
Alguns chegam a asseverar que, na dependência dos trabalhadores para com os mentores, gasta-se um tempo que poderia ser empregado no bem dos sofredores. Outros chegam a acreditar que os benfeitores, quando querem dizer algo, buscam a psicografia e não ocupam o tempo destinado para cuidar dos obsessores.
Maturidade do entendimento. Maturidade moral. Eis a grande conquista a ser realizada!
A história do GEF nos leva a refletir na essência das lições de Jesus nesse setor do intercâmbio mediúnico como sendo uma parceria. Pessoas simples, carregando ainda muitas lutas a vencer em suas almas e com boa orientação espiritual são capazes de realizar muito quando seus corações abrem uma pequena fresta para a entrada da luz do amor.
Nossos companheiros no GEF são pessoas em busca de sua melhoria e crescimento espiritual. Juntos, conseguiram se transformar em um canteiro de esperanças e vitórias. Eles conseguiram abrigar em seu íntimo a vibração cósmica da amorosidade sem limites. Entraram, por essa razão, em sintonia com a lei que rege os mais sublimes planos da vida: a fraternidade sem barreiras. Conseguiram agasalhar em seus corações a vibração da universalidade, sob a égide de que todos os rótulos e separatismos se extinguem para dar lugar ao apoio, à colaboração e à união.
Essa necessidade humana de separar o inseparável, de distinguir o certo do errado, de desvalorizar quem não esteja afinado com os modelos é, sem dúvida, um dos maiores entraves aos serviços do bem na Terra. O preconceito, o racismo, a xenofobia, a homofobia, a discriminação da mulher, o desrespeito aos idosos, o menosprezo às classes sociais mais carentes e o privilégio para com as mais abastadas, enfim, toda forma deseparatismo é resultado da maior doença que assinala este planeta de provas e expiações: o egoísmo.
Vencer os preconceitos que excluem os diferentes, abraçar com respeito a diversidade, entender que diferenças fazem parte de um todo, dilatar a consciência de que a vida é um sistema e que essa separação de seitas, partidos, movimentos e culturas é algo ilusório é a base para uma entrega psíquica que permite florescer as bênçãos entre planos distintos da vida: o espiritual e o físico.
A Doutrina Espírita iluminou nosso caminho de diretrizes e compromissos, para que a consciência possa se libertar dos grilhões da culpa e da dor; entretanto, não nos impôs o pesado ônus de assumir aquilo que ainda não queremos ou não conseguimos.
Ser espírita e médium com o Cristo não é tarefa para os anjos. Todos podemos, dentro das limitadas condições que ainda nos assinalam, fazer algo em favor do bem e do próximo, diminuindo nosso egoísmo e dilatando a luz da fraternidade.
Trabalhamos todos pela nossa melhoria e, mais que conhecimento espiritual, o conhecimento de nós mesmos é a garantia mais segura para que a nossa sombra interior não seja a nossa grande adversária no bom aproveitamento das oportunidades de servir e aprender.
Quando o amor sucumbe, a trevas vencem. Se faltar a luz da generosidade, do afeto e do sentimento cristão, seremos atormentados pela escuridão da mágoa, da disputa e da inimizade.
Para os serviços com os infernos, é necessário que tenhamos laços com o céu. Para descer aos despenhadeiros do submundo astral, pede-se apenas a união de propósitos em torno do ideal do perdão e da tolerância, para recolhermos os sentimentos elevados por parte de tutores amoráveis que nos amparam os esforços.
O chamado de Jesus é para todos os que se encontram doentes e buscam sua cura pessoal. A regeneração bate à porta do planeta Terra neste século 21. Os pilares morais, sociais e espirituais deste tempo estão em plena construção. Para que esse novo tempo se estabeleça, é imperiosa a limpeza dos escombros morais, sob os quais se encontram soterrados bilhões de irmãos, nossos familiares espirituais, nas furnas da infelicidade, da tormenta e da loucura.
Os médiuns da regeneração se fazem archotes de luz nas trevas, auxiliando, efetivamente, a remoção de tais escombros, pelo simples fato de investigarem seu sombrio pessoal. São dispensadores emocionais capazes de manter o clima da serenidade mesmo ante os vendavais da agressividade, do preconceito, da maldade calculada e do poder organizado.
Nos bastidores da transição, há gemidos de dor, calados pelo materialismo voraz, esperando a luz do amor e o poder da coragem para salvá-los dos pátios horrendos na vida extrafísica. A defesa para aqueles que se oferecem a essa missão gloriosa, rejeitada por muitos grupos mediúnicos, é algo de incomparável grandeza e justiça.
As palavras de irmão Ferreira naquela noite de oportunidades junto ao GEF fortaleceu o ideal de servir de nossos companheiros, que até hoje se mantêm firmes em busca dos diamantes atirados no lodo, que não perderam sua luz e sua condição gloriosa de filhos de Deus.
O Cangaceiro do Cristo os conscientizou de que eles tinham os seus nomes na mesa de Jesus, e que nenhum amparo lhes faltaria no serviço do bem. Isso também serve para todo aquele que se oferecer no bom combate das lides da luz espiritual pela implantação da regeneração na Terra.
Maria Modesto Cravo
(1) Questão 930 - O Livro dos Espíritos.