Bezerra de Menezes - Livro Seguindo Juntos - Espíritos Diversos / Chico Xavier - Cap. 20
Ponderação
Não gaste impensadamente os seus dias na pregação desesperada de princípios renovadores que você mesmo tem dificuldade de abraçar. Corrijamos em nós o que nos aborrece nos outros e Jesus fará o resto pela felicidade do mundo inteiro.
Quando te dirijas à Divina Providência rogando algo, não te permitas o mergulho na aflição improdutiva, capaz de conturbar-te o ambiente, retardando a concessão que desejas.
Entenderás isso facilmente, nas lições mais simples da vida prática.
Se requisitas do carro uma velocidade mais ampla em face daquela que o trânsito recomenda, sob o pretexto de pressa, inclinas-te, indiscutivelmente para o desastre.
Na hipótese de exigires da ponte o transporte de carga determinada com o peso muito superior à capacidade de resistência em que se estrutura, com a desculpa de urgência, é provável que a desmanteles.
Quando espancas um vegetal, impiedosamente, a fim de senhorear-lhe algum fruto, sob o pretexto da fome, estarás reduzindo muitas das futuras possibilidades da árvore em teu prejuízo próprio.
Em te debruçando num poço, agitando-lhe o fundo, com a desculpa da sede, unicamente lhe turvas o líquido, tornando-o inadequado à própria saúde.
Em teus requerimentos à Vida Maior, formula-os com cuidado e continua no trabalho que o mundo te conferiu, esperando pela manifestação do Poder Divino, através das circunstâncias do caminho em que te encontras.
Inquietação desnecessária atrasa o socorro previsto.
Sejam quais forem os obstáculos que te surjam à frente, na expectativa do apoio que solicitas dos Céus, não desesperes, nem esmoreças.
Se a resposta do Mais Alto aos pedidos que fizeste parece demorar excessivamente, é que a tua rogativa decerto reclama análises mais profundas, a fim de que, futuramente, não te voltes contra as leis da vida, alegando haver caído na imprevidência que terá nascido de ti mesmo e não do Senhor que, sabiamente, nos reserva sempre o melhor.
Emmanuel - Livro da Esperança - Chico Xavier - Cap. 23 - Nos domínios da paciência
“Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está nos Céus.” — JESUS — Mateus, 5.16.
“Sede pacientes. A paciência também é uma caridade e deveis praticar a lei de caridade ensinada pelo Cristo, enviado de Deus.” — Cap. IX, 7.
Em muitos episódios constrangedores, admitimos que paciência é cruzar os braços e gemer passivamente em preguiçosa lamentação.
Noutros lances da luta com que somos defrontados por manifestações de má-fé, a raiarem por dilapidações morais inomináveis, supomos que paciência é tudo deixar como está para ver como fica.
Isso, porém, constará das lições da vida ou da natureza?
Células orgânicas, quando ocorrem acidentes ao veículo físico, estabelecem processos de defesa, trabalhando mecanicamente na preservação da saúde corpórea, enquanto isso lhes é possível.
Vegetais humildes devastados no tronco não renunciam à capacidade de resistência e, enquanto dispõem das possibilidades necessárias, regeneram os próprios tecidos, preenchendo as finalidades a que se destinam.
Paciência não é conformismo; é reconhecimento da dificuldade existente, com a disposição de afastá-la sem atitude extremista. Nem deserção da esfera de luta e nem choro improfícuo na hora do sofrimento.
Sejam como sejam os entraves e as provações, a paciência descobre o sistema de removê-los.
Em assim nos externando, não nos referimos à complacência culposa que deita um sorriso blandicioso para a leviandade, fingindo ignorá-la. Reportamo-nos à compreensão que identifica a situação infeliz e articula meios de solucionar-lhe os problemas sem alardear superioridade.
Paciência, no fundo, é resignação quando as injúrias sejam desferidas contra nós em particular, mas sempre que os ataques sejam dirigidos contra os interesses do bem de todos, paciência é perseverança tranquila no esclarecimento geral, conquanto semelhante atitude, às vezes, nos custe sacrifícios imensos.
Jesus foi a paciência sem lindes, no entanto, embora suportasse, sereno, todos os golpes que lhe foram endereçados, pessoalmente preferiu aceitar a morte na cruz a ter de aplaudir o erro ou acumpliciar-se com o mal.
André Luiz - Livro Nosso Lar - Chico Xavier - Cap. 14
Elucidações de Clarêncio
Pulsava-me precípite o coração, fazendo-me lembrar o aprendiz bisonho, diante de examinadores rigorosos. Vendo aquela mulher em lágrimas e ponderando a energia serena do Ministro do Auxílio, tremia dentro de mim mesmo, arrependido de haver provocado aquela audiência.
Não seria melhor calar, aprendendo a esperar deliberações superiores? Não seria presunção descabida pedir atribuições de médico naquela casa, onde permanecia como enfermo?
A sinceridade de Clarêncio, para com a irmã que me antecedera, despertara-me raciocínios novos. Quis desistir, renunciar ao desejo da véspera e voltar ao aposento, mas, era impossível. O Ministro do Auxílio, como se adivinhasse meus propósitos mais íntimos, exclamou em tom firme:
— Pronto a ouvi-lo.
Ia solicitar instintivamente qualquer serviço médico em “Nosso Lar”, embora a indecisão que me dominava, entretanto, a consciência me advertia: Por que referir-se a serviço especializado? Não seria repetir os erros humanos, dentro dos quais a vaidade não tolera outro gênero de atividade senão o correspondente aos preconceitos dos títulos nobiliárquicos, ou acadêmicos? Esta ideia equilibrava-me a tempo. Bastante confundido, falei:
— Tomei a liberdade de vir até aqui, rogar seus bons ofícios para que me reintegre no trabalho. Ando saudoso dos meus misteres, agora que a generosidade do “Nosso Lar” me reconduziu à bênção da harmonia orgânica. Qualquer trabalho útil me interessa, desde que me afaste da inação.
Clarêncio fitou-me longamente, como a identificar-me as intenções mais íntimas.
— Já sei. Verbalmente pede qualquer gênero de tarefa; mas, no fundo, sente falta dos seus clientes, do seu gabinete, da paisagem de serviço com que o Senhor honrou sua personalidade na Terra.
Até aí, as palavras dele eram jatos de conforto e esperança, que recebia no coração, com gestos confirmativos.
Depois de uma pausa mais longa, porém, o Ministro prosseguiu:
— Convém notar, todavia, que às vezes o Pai nos honra com a Sua confiança e nós desvirtuamos os verdadeiros títulos de serviço.
Você foi médico na Terra, cercado de todas as facilidades, no capítulo dos estudos. Nunca soube o preço de um livro, porque seus pais, generosos, lhe custeavam todas as despesas. Logo depois de graduado, começou a receber proventos compensadores, não teve sequer as dificuldades do médico pobre, compelido a mobilizar relações afetivas para fazer clínica.
Prosperou tão rapidamente que transformou facilidades conquistadas em carreira para a morte prematura do corpo. Enquanto moço e sadio, cometeu numerosos abusos, dentro do quadro de trabalho a que Jesus o conduziu.
Ante aquele olhar firme e bondoso ao mesmo tempo, estranha perturbação apossara-se de mim. Respeitosamente, ponderei:
— Reconheço a procedência das observações, mas, se possível, estimaria obter meios de resgatar meus débitos, consagrando-me sinceramente aos enfermos deste parque hospitalar.
— Impulso muito nobre, — disse Clarêncio sem austeridade, — contudo, é preciso convir que toda tarefa na Terra, no campo das profissões, é convite do Pai para que o homem penetre os templos divinos do trabalho.
O título, para nós, é simplesmente uma ficha; mas, no mundo, costuma representar uma porta aberta a todos os disparates. Com essa ficha, o homem fica habilitado a aprender nobremente e a servir ao Senhor, no quadro de Seus divinos serviços no planeta.
Tal princípio é aplicável a todas as atividades terrestres, excluída a convenção dos setores nos quais se desdobrem.
Meu irmão recebeu uma ficha de médico. Penetrou o templo da Medicina, mas sua ação, lá dentro, não se verificou em normas que me autorizem a endossar seus atuais desejos.
Como transformá-lo, de um momento para outro, em médico de Espíritos enfermos, quando fez questão de circunscrever observações exclusivamente à Esfera do corpo físico? Não nego sua capacidade de excelente fisiologista, mas o campo da vida é muito extenso.
Que me diz de um botânico que alinhasse definições apenas com o exame das cascas secas de algumas árvores? Grande número de médicos, na Terra, prefere apenas a conclusão matemática, frente aos serviços de anatomia. Concordemos que a Matemática é respeitável, mas não é a única ciência do Universo.
Como reconhece agora, o médico não pode estacionar em diagnósticos e terminologias. Há que penetrar a alma, sondar-lhe as profundezas.
Muitos profissionais da Medicina, no planeta, são prisioneiros das salas acadêmicas, porque a vaidade lhes roubou a chave do cárcere. Raros conseguem atravessar o pântano dos interesses inferiores, sobrepor-se a preconceitos comuns e, para essas exceções, reservam-se as zombarias do mundo e o escárnio dos companheiros.
Fiquei atônito. Não conhecia tais noções de responsabilidade profissional. Assombrava-me a interpretação do título acadêmico, reduzido à ficha de ingresso em zonas de trabalho para cooperação ativa com o Senhor Supremo. Incapaz de intervir, aguardei que o Ministro do Auxílio retomasse o fio das elucidações.
— Conforme deduz, — continuou ele, — não se preparou convenientemente para os nossos serviços aqui.
— Generoso benfeitor, — atrevi-me a dizer, — compreendo a lição e curvo-me à evidência.
E, fazendo esforço por conter as lágrimas, pedi, humilde:
— Submeto-me a qualquer trabalho, nesta colônia de realização e paz.
Com um profundo olhar de simpatia, respondeu:
— Meu amigo, não possuo apenas verdades amargas. Tenho igualmente a palavra de estímulo. Não pode ainda ser médico em “Nosso Lar”, mas poderá assumir o cargo de aprendiz, oportunamente. Sua posição atual não é das melhores; entretanto, é confortadora, pelas intercessões chegadas ao Ministério do Auxílio, a seu favor.
— Minha mãe? — Perguntei, inebriado de alegria.
— Sim, — esclareceu o Ministro, — sua mãe e outros amigos, no coração dos quais você plantou a semente da simpatia.
Logo após sua vinda, pedi ao Ministério do Esclarecimento providenciasse a obtenção de suas notas, que examinei atentamente. Muita imprevidência, numerosos abusos e muita irreflexão, mas, nos quinze anos de sua clínica, também proporcionou receituário gratuito a mais de seis mil necessitados.
Na maioria das vezes, praticou esses atos meritórios, absolutamente por troça; mas, presentemente, pode verificar que, mesmo por troça, o verdadeiro bem espalha bênçãos em nossos caminhos. Desses beneficiados, quinze não o esqueceram e têm enviado, até aqui, veementes apelos a seu favor. Devo esclarecer, no entanto, que mesmo o bem que proporcionou aos indiferentes surge aqui a seu favor.
Concluindo, a sorrir, as elucidações surpreendentes, Clarêncio acentuou:
— Aprenderá lições novas em “Nosso Lar” e, depois de experiências úteis, cooperará eficientemente conosco, preparando-se para o futuro infinito.
Sentia-me radiante. Pela primeira vez, chorei de alegria na colônia. Oh! Quem poderá entender, na Terra, semelhante júbilo? Por vezes, é preciso se cale o coração no grandiloquente silêncio divino.
Emmanuel - Livro Tocando o Barco - Chico Xavier - Cap. 3
Procuremos mais luz
Amigos:
A casa não se levanta sem alicerces.
O rio não desliza sem leito.
A árvore não se ergue sem raízes.
O compositor não chegaria à obra-prima sem a iniciação do solfejo.
O sábio não penetraria o templo da cultura sem, antes, acomodar-se com o impositivo do alfabeto.
O médico não conseguiria curar sem apoiar-se no estudo e na experiência.
O milagre, em qualquer circunstância, não é mais que labor intenso de recapitulação, de sacrifício, de persistência e devoção no objetivo por atingir.
Se adquiris no mundo o comprimido para a dor de cabeça, se pagais o ingresso à casa de diversões, por que motivo haveríeis de obter a fé sem trabalho perseverante na compreensão da vida e no burilamento da personalidade?
Nada existe sem preço. A lei de retribuição funciona em todos os caminhos.
Sementeira e colheita. Ação e reação.
Temos o que buscamos. Atraímos, invariavelmente, o objeto de nossa procura.
Se desejais direitos no Céu, não olvideis as obrigações na Terra.
Se ao invés de aguardardes a passagem dos milênios no tempo, que tudo transforma e tudo amadurece, vos esforçardes, desde agora, na sublimação da própria alma, através da renunciação às sombras do egoísmo e da ignorância, do exclusivismo e da crueldade, mais depressa formareis o alto patrimônio de luz do merecimento próprio e entrareis, de imediato, na posse dos tesouros inalienáveis da Vida Imperecível.
Joanna de Ângelis - Livro Vida Feliz - Divaldo P. Franco - Cap. 81
Jesus disse: “Não se turbe o teu coração”, ensinando que a calma e a confiança em Deus devem ser o lema de toda a criatura que deseja encontrar a felicidade.
Nunca faltam motivos para preocupações, inquietando o coração, perturbando a vida. A existência humana é uma oportunidade de valorização dos bens eternos e de iluminação íntima.
Se colocas as tuas ansiedades em Deus e Lhe confias a tua vida, tudo transcorre normalmente, e, se algo perturbador acontece, a serenidade assume o controle da situação e age com acerto.
Deste modo, não te permitas turbar o coração nem a mente, ante as ocorrências mal sucedidas.
Victor - Livro O Céu e o Inferno Allan Kardec- 2ª Parte - Espíritos Felizes - Cap. 2
Victor Lebufle
— Moço, prático do porto do Havre, falecido aos vinte anos de idade. Morava com sua mãe, mercadora, a quem prodigalizava os mais ternos e afetuosos cuidados, sustentando-a com o produto do seu rude trabalho.
Nunca o viram frequentar tabernas nem entregar-se aos tão frequentes excessos da sua profissão, por não querer desviar a menor partícula de salário do fim piedoso que lhe destinava. Todo o seu lazer consagrava-o à sua mãe para poupá-la de fadigas.
Afetado de há muito por enfermidade, da qual, sabia, havia de morrer, ocultava-lhe os sofrimentos para não a inquietar e para que ela não quisesse privá-lo da sua parte de labor.
Na idade das paixões, eram precisos a esse moço um grande cabedal de qualidades morais e poderosa força de vontade para resistir às perniciosas tentações do meio em que vivia.
De sincera piedade, a sua morte foi edificante.
Na véspera da morte, exigiu de sua mãe que fosse repousar, dizendo-lhe ter, também ele, necessidade de dormir.
Ela teve a esse tempo uma visão; achava-se, disse, em grande escuridão, quando viu um ponto luminoso que crescia pouco a pouco, até que o quarto ficou iluminado por brilhante claridade, da qual se destacava radiante a figura do filho, elevando-se ao Espaço infinito. Compreendeu que o seu fim estava próximo, e, com efeito, no dia seguinte, aquela alma bem formada havia deixado a Terra murmurando uma prece.
Uma família espírita, conhecedora da sua bela conduta, interessando-se por sua mãe, que ficara sozinha, teve a ideia de o evocar pouco tempo após a morte e ele se manifestou espontaneamente, dando a seguinte comunicação:
— Desejais saber como estou agora; feliz, felicíssimo! Devem ser levados em conta os sofrimentos e angústias, que são a origem das bênçãos e da felicidade de além-túmulo.
A felicidade! Ah! não compreendeis o que significa essa palavra. As venturas terrenas quão longe estão das que experimentamos ao regressar para Jesus, com a consciência pura, com a confiança do servo cumpridor do seu dever, que espera cheio de alegria a aprovação daquele que é tudo.
“Ah! meus amigos, a vida é penosa e difícil, quando se não tem em vista o seu fim; mas eu vos digo, em verdade, que quando vierdes para junto de nós, se seguirdes a lei de Deus, sereis recompensados além, mas muito além dos sofrimentos e dos méritos que porventura julgardes ter adquirido para a outra vida.
Sede bons e caritativos, dessa caridade tão desconhecida entre os homens, e que se chama benevolência.
Socorrei os vossos semelhantes, fazendo por outrem mais que por vós mesmos, uma vez que ignorais a miséria alheia e conheceis a vossa.
Socorrei minha mãe, pobre mãe, único pesar que me vem da Terra. Ela deve passar por outras provas e preciso é que chegue ao Céu. Adeus, vou vê-la.”
Victor
O guia do médium. — Nem sempre os sofrimentos amargados na Terra constituem uma expiação.
Os Espíritos que, cumprindo a vontade do Senhor, baixam à Terra, como este, são felizes em provar males que para outros seriam uma expiação.
O sono os revigora perante o Todo-Poderoso, dando-lhes a força de tudo suportarem para sua maior glória.
A missão deste Espírito, em sua última existência, não era de aparato, mas por mais obscura que fosse nem por isso tinha menos mérito, visto como não podia ser estimulado pelo orgulho.
Ele tinha, antes de tudo, um dever de gratidão mostrar que nos piores ambientes podem encontrar-se almas puras, de nobres e elevados sentimentos, capazes de resistir a todas as tentações.
Isso é uma prova de que as qualidades morais têm causas anteriores, e um tal exemplo não terá sido estéril.